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versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.27 n.3 Caracas mar. 2002

 

0378-1844/02/03/110-08

Recebido:14/09/2001. Modificado: 14/12/2001. Aceito: 21/12/2001

A ECDISE DO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus L. (DECAPODA, BRACHYURA) NA VISÃO DOS CARANGUEJEIROS

Rômulo Romeu da Nóbrega Alves e Alberto Kioharu Nishida

PALAVRAS-CHAVE / Catador de Caranguejo / Caranguejo-uçá / Ciclo Lunar / Ecdise / Percepção Ambiental / Manguezal / Ucides cordatus /

Rômulo Romeu da Nóbrega Alves. Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestrando em Ciências Biológicas, Zoologia, UFPB. Endereço: Departamento de Sistemática e Ecologia, Campus I, João Pessoa, Paraíba, Brasil. 58059-900. e-mail: romulo@dse.ufpb.br

Alberto Kioharu Nishida. Licenciado em Ciências Biológicas, Fundação Universidade Federal de São Carlos (UFScar). Especialista em Oceanografia, Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências Biológicas, UFPB. Doutor em Ecologia e Recursos Naturais, UFScar. Professor Adjunto, Ecologia e Ecoturismo, UFPB. Endereço: Departamento de Sistemática e Ecologia, Campus I, João Pessoa, Paraíba, Brasil. 58059-900. e-mail: guy@dse.ufpb.br

Resumo

O caranguejo-uçá (Ucides cordatus) desempenha relevante papel ecológico e destaca-se na economia como um dos recursos mais explorados nos manguezais brasileiros. Os catadores de caranguejo detêm um amplo conhecimento acerca da biologia desse crustáceo e dos fatores abióticos relacionados ao seu ciclo de vida. O objetivo deste trabalho foi investigar a percepção ambiental do catador sobre os fatores abióticos e o comportamento do caranguejo durante o processo de ecdise, no manguezal do estuário do rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. Segundo os catadores, o processo de muda do caranguejo apresenta uma estreita relação com as fases da lua e variações do nível das marés. Eles usam o termo "embatumamento" para designar todo o processo que envolve a muda, quando o caranguejo enterra-se, fechando a abertura de sua galeria para troca do exoesqueleto. Baseado em depoimentos de catadores experientes foi realizado um estudo de caso, onde o conhecimento empírico foi confrontado com dados científicos. Os resultados evidenciaram a existência uma sobreposição entre a afirmação empírica dos catadores e os dados observados cientificamente, sendo comprovado que o início e final do processo de muda acontece quando a amplitude entre as marés alta e baixa começa a diminuir (maré de quebramento). Constatou-se que o processo de muda dessa espécie, no seu habitat natural, dura em torno de 28 a 29 dias. Diante disso, torna-se evidente que o conhecimento dos catadores pode subsidiar estudos científicos e deve ser considerado quando da elaboração de medidas que visem a regulamentação da captura do caranguejo-uçá.

Summary

The mangrove crab (Ucides cordatus) has a relevant ecological role and is one of the most exploited resources in Brazilian mangroves. Crab collectors possess a substantial knowledge about the biology of that crustacean and about the abiotic factors related to its life cycle. This paper aimed to investigate the crab collector’s perception of the environmental factors and the behaviour of the mangrove crab during moulting in the estuary of the Mamanguape river, Paraíba State, Brazil. According to the collectors, moulting has a close relation to the lunar and tidal cycles, and they use the term "embatumamento" to designate the entire process. Based on data obtained through experienced crab collectors, we confronted scientific and empirical knowledge about the moulting process, and the results revealed an overlap between these two sources of information. Moulting starts and ends when the amplitude between high and low tides starts to be reduced, and lasts about 28-29 days. Collector’s knowledge can aid scientific studies and should be taken into consideration when regulatory measures are proposed.

Resumen

El cangrejo uçá (Ucides cordatus) desempeña un relevante papel ecológico y se destaca en la economía como uno de los recursos mas explotados en los manglares brasileños. Los recolectores de cangrejos poseen un amplio conocimiento acerca de la biología de ese crustáceo y de los factores abióticos relacionados a su ciclo de vida. El objetivo de este trabajo fue investigar la percepción ambiental del recolector acerca de los factores ambientales y del comportamiento del cangrejo durante el proceso de ecdisis en el mangle del estuario de Mamanguape, Paraíba, Brasil. Según los recolectores, el proceso de muda del cangrejo presenta una estrecha relación con las fases lunares y las variaciones del nivel de las mareas. Ellos usan el término "embatumamento" para designar todo el proceso que envuelve la muda, cuando el cangrejo se entierra cerrando la abertura de su galería para cambiar el exoesqueleto. Basado en declaraciones de recolectores experimentados fue realizado un estudio de caso donde el conocimiento empírico fue confrontado con datos científicos. Los resultados evidenciaron la existencia de una sobreposición entre la afirmación empírica de los recolectores y los datos observados científicamente, siendo comprobado que el inicio y el final del proceso de muda ocurre cuando la amplitud entre la marea alta y la baja comienza a disminuir (marea "de quebramento"). Fue constatado que el proceso de muda de esa espécie en su hábitat natural dura aproximadamente de 28 a 29 días. Delante de esto, es evidente que el conocimiento de los recolectores puede apoyar estudios científicos y debe ser considerado al elaborar medidas que apunten a la reglamentación de la captura del cangrejo "uçá".

 

Os manguezais são identificados como uma unidade ecológica da qual dependem dois terços da população pesqueira do mundo (Canestri e Riuz, 1973). Constituem, conseqüentemente, o ponto de partida para o sustento nutricional de uma enorme diversidade de animais (Pannier e Pannier, 1980), muitos dos quais de grande importância econômica.

Dentre as diversas razões para se estudar os manguezais, destaca-se o fato de que muitas comunidades humanas têm uma dependência tradicional desses ecossistemas para a sua subsistência. Segundo Diegues (1993) um aspecto relevante na definição de "culturas tradicionais" é a existência de sistemas de manejo dos recursos naturais marcados pelo respeito aos ciclos naturais, e por sua exploração dentro da capacidade de recuperação das espécies de animais e plantas utilizadas. Esse mesmo autor ressalta, ainda, que esses sistemas tradicionais de manejo não são somente formas de exploração econômica, mas revelam a existência de um complexo de conhecimentos adquiridos pela tradição herdada das gerações anteriores.

Em manguezais brasileiros, principalmente aqueles localizados na região Nordeste, a atividade de catação do caranguejo Ucides cordatus (caranguejo-uçá), constitui uma das mais importantes fontes de subsistência para as populações humanas que vivem próximas a esses ambientes. De acordo com Nordi, durante praticamente todo o ano, o caranguejo-uçá vive entocado em galerias individuais de aproximadamente 1m de profundidade, construídas sob as árvores de mangue. Sua captura ou "catação" ocorre nos horários da baixamar e é feita com as mãos nuas, auxiliadas por instrumentos adaptados pelo próprio catador (Nordi, 1994a).

No ciclo de vida desse crustáceo, distinguem-se três principais fases: a ecdise (muda), o acasalamento (andada) e a desova. A ecdise constitui a etapa de crescimento do U. cordatus, ocorrendo geralmente uma vez por ano em indivíduos adultos, sendo mais freqüente em jovens. De acordo com Rodrigues et al. (2000) existem poucas informações sobre a ecdise, mas que demonstram a existência de certos padrões no ciclo biológico da espécie: as mudas ocorrem no inverno e primavera, como também observado por Alcântara Filho (1978), Costa (1979), Maneschy (1993) e Diele (1997). Com base em estudos de laboratório, Nascimento (1993), estimou que a duração de todo processo relacionado à ecdise é de 15 a 20 dias. Entretanto, este período pode ser diferente no habitat natural do caranguejo, onde os diversos fatores ambientais característicos do ambiente de mangue influenciam nesse processo.

O ciclo lunar e as variações das marés são fatores que exercem grande influência sobre o ciclo de vida do caranguejo, atuando diretamente no padrão geral de atividade desse crustáceo em seu habitat. Em virtude da importância destes fatores para o sucesso das capturas e a organização das atividades de coleta, os catadores desenvolveram um elaborado conhecimento sobre as fases da lua e os tipos de maré. Tais conhecimentos associados ao saber dos caranguejeiros acerca da bionomia do caranguejo, podem, portanto, subsidiar estudos científicos relacionados à biologia e ecologia desse crustáceo. Para Johannes (1981, 1989), observações diárias de pescadores sobre os recursos e o ambiente de pesca, junto com o conhecimento aprendido dos mais idosos, poderiam beneficiar estudos ecológicos. Posey (1984), Sillitoe (1998), e Morin-Labatut e Akhtar (1992) ressaltam que os saberes e técnicas tradicionais complementam o conhecimento científico em pesquisas básicas e sobre avaliação de impactos ambientais, manejo de recurso e desenvolvimento sustentável.

As comunidades tradicionais que vivem próximas aos manguezais e dependem de recursos oriundos desse ambiente, apresentam um amplo conhecimento acerca dos componentes bióticos e abióticos que integram esse ecossistema. De acordo com Poizat e Baran (1997), este tipo de conhecimento pode ser usado como um estágio preliminar da investigação ecológica.

O saber tradicional pode ainda subsidiar planos de manejo, visando uma exploração sustentável, sobretudo daqueles recursos mais fortemente explorados. Segundo Nordi (1994a), os órgãos ambientais que regulamentam a captura da espécie U. cordatus desconsideram a realidade da comunidade envolvida e o seu conjunto de conhecimentos sobre o recurso e o ambiente de coleta, fator que possivelmente contribui para a baixa eficiência das normas de regulamentação de captura.

Ecólogos e aqueles que fazem manejo freqüentemente têm ignorado o fato de que eles poderiam aprender muito com as comunidades tradicionais (Poizat e Baran, 1997). No Brasil, estudos que consideram o saber tradicional têm se intensificado nos últimos anos, notadamente os que incluem o etnomanejo de hábitats (Diegues et al., 1999). Um levantamento bibliográfico realizado por este autor listou um total de 868 publicações relevantes envolvendo populações tradicionais, sendo que quase 80% desses trabalhos estão concentrados nos últimos vinte anos, sobretudo na última década. Dessas publicações, a maior parte refere-se ao conhecimento sobre o uso de espécies vegetais cultivadas/coletadas. A ictiologia/haliêutica, incluindo trabalhos que tratam de conhecimento de peixes (grupo mais estudado), moluscos e crustáceos, também apresenta um número expressivo de publicações. São exemplos os trabalhos de Souza (1987), Farias (1988), Alencar (1991), Maneschy (1995), Weigert (1995) e Mourão (2000). Entre os que lidam com moluscos destacam-se os de Alves e Souza (2000) e Nishida (2000); para crustáceos, os de Nordi (1992; 1994a; b; 1995) e Maneschy (1993). Em nível mundial, estudos com esse enfoque também tem sido realizados. Exemplos são os trabalhos de Pajaro e Vincent (1996), Pajaro et al. (1997), Poizat e Baran (1997), Vincent e Pajaro (1997) e Skaptadóttir (2000).

Esse trabalho objetivou analisar a percepção ambiental do catador de caranguejo-uçá quanto às marés, ao ciclo lunar e ao comportamento desse crustáceo durante o "embatumamento" (quando o caranguejo se enterra para troca da carapaça), através da comparação do conhecimento do catador com resultados nele obtidos. Também foi objetivo desse trabalho determinar o tempo de duração da ecdise da espécie U. cordatus, prover informações sobre o comportamento desse crustáceo e avaliar a influência dos fatores abióticos durante o referido processo no ambiente natural.

Área de Estudo

A pesquisa foi realizada em uma área de manguezal situada no estuário do rio Mamanguape, o segundo maior do estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil. Este estuário dista cerca 70km ao norte da capital, João Pessoa, localizando-se entre as coordenadas 6º43’2" e 6°51’54" S, e 35º7’46" e 34º54’4"W (Figura 1). Está orientado no sentido este-oeste e tem, aproximadamente, 24km de extensão e uma largura máxima em torno de 2,5km, nas proximidades de sua desembocadura (Figura 2).

A área de influência do estuário do Rio Mamanguape constitui uma Área de Proteção Ambiental (APA) que abrange uma vasta extensão de manguezal, ilhas e croas (bancos areno-lodosos) e, mais externamente, na foz, uma barreira de recifes, que se apresenta na forma de um extenso paredão. A APA Barra do Rio Mamanguape, possui 14.460ha e foi criada pelo Decreto No 924 de 10 de setembro de 1993, sendo formada pelos estuários dos rios Mamanguape, Estivas e Miriri. Os primeiros fazem parte dos municípios de Rio Tinto e o último do município de Lucena, no litoral norte do Estado da Paraíba.

A porção estuarina da APA, que corresponde à sua maior extensão, tem suas margens ocupadas por cerca de 6.000ha de mangue bastante preservado, representando a maior área de manguezal do Estado da Paraíba. Na margem esquerda do estuário, existe uma reserva da FUNAI, cuja população indígena, em sua maior parte, sobrevive às expensas dos recursos pesqueiros extraídos do estuário. A noroeste da área de influência do referido ambiente, existe, ainda, a Reserva Biológica Guaribas, do IBAMA, e próximo a sua desembocadura, na Barra de Mamanguape, encontra-se instalada a base de pesquisa para o desenvolvimento do projeto de proteção e manejo de peixe-boi marinho (Trichechus manatus), espécie ameaçada de extinção.

O manguezal do Rio Mamanguape é caracterizada predominantemente pelas espécies: Rhizophora mangle, Avicennia germinans, A. schaueriana, Laguncularia racemosa e Conocarpus erectus. As maiores árvores de Rhizophora encontradas chegam a 25m de altura e até 60cm de diâmetro (DAP- diâmetro à altura do peito); as de A. germinans alcançam alturas superiores à 30m de altura e 65cm DAP. Além das espécies típicas de mangue, outras espécies vegetais como Acrostichum aureum (samambaia do mangue) e Eleocharis obtusa são encontradas nas partes mais altas do mangue (Paludo e Klonowski, 1999).

Este manguezal se caracteriza como um dos mais preservados do Estado (Cunha et al., 1992). Entretanto, já apresenta algumas zonas que sofrem interferências antrópicas, devido, principalmente, à expansão do cultivo da cana-de-açúcar. Watanabe et al. (1994) constataram evidências da contaminação por produtos oriundos da monocultura canavieira em um dos tributários do estuário.

Os pescadores que dependem desse estuário para sua sobrevivência, afirmam que a produção pesqueira vem diminuindo, devido aos efeitos dos agrotóxicos utilizados no cultivo da cana-de-açúcar, ao longo deste rio. As ilhas e croas também estão sofrendo transformações em função do assoreamento do leito, que se torna cada vez mais evidente.

A atividade econômica mais importante relacionada ao manguezal na área é a captura artesanal do caranguejo U. cordatus (Paludo e Klonowski, 1999). Todavia, nos últimos anos, vem sendo observada pelos catadores de caranguejo-uçá, uma diminuição no estoque dessa espécie nos manguezais, uma vez que para esses profissionais manterem a sua média de produção, tiveram que aumentar o esforço de pesca. A situação agravou-se nos últimos três anos, devido à ocorrência de uma mortandade de caranguejo-uçá em três estuários do litoral paraibano. Os surtos de mortandade foram registrados em vários estados do Nordeste do Brasil e a causa, até o momento, não foi diagnosticada (Nishida et al., 1999).

Métodos

O pressuposto básico neste trabalho, como em Nishida (2000), foi o abandono de uma postura etnocêntrica de superioridade frente ao saber popular, a partir do qual foram desenvolvidas as idéias e hipóteses que fundamentaram esse trabalho. Procurou-se enfatizar o conhecimento das comunidades tradicionais, combatendo assim a intolerância existente, tanto na comunidade acadêmica quanto fora dela, em relação a outras formas de saber e, em especial, àquelas das sociedades tradicionais.

Buscando a complementaridade e maior adequação à complexidade das relações humanas com o ambiente, optou-se nesse estudo, como em Nordi (1992), Machado Guimarães (1995) e Nishida (2000), por transitar entre métodos subjetivos das Ciências Sociais e os objetivos usados em Ciências Biológicas. O conhecimento empírico do catador foi registrado através de observações diretas, equivalentes à do "observador participante não membro" (Stebbins, 1987), complementado por entrevistas livres e questionários aplicados a um número mínimo de dez catadores experientes (informantes) e que vivem exclusivamente dessa atividade, constituindo uma amostragem estratificada.

Após o contato prévio com catadores de caranguejo-uçá, os quais informaram sobre os locais mais forrageados, uma área de 300m2 foi escolhida e demarcada com cordões e bandeirolas, sinalizando que o local deveria ser preservado da atividade de catação do caranguejo durante o período de realização de coleta de dados. A importância e os objetivos desta pesquisa também foram divulgados junto a outras comunidades de catadores, a fim de garantir que não ocorressem interferências inesperadas no local de estudo.

A percepção do catador acerca dos fatores ambientais e do comportamento do caranguejo durante a muda foi analisada através da formulação de um teste de hipótese, onde o conhecimento empírico foi comparado com dados científicos obtidos de atividades de campo. Baseado em depoimentos dos catadores foi formulada a hipótese: "o caranguejo se embatuma na maré de quebramento, abrindo o buraco três marés depois" (Arnô, catador de caranguejo de Tramataia, Paraíba, Brasil). Isto seria equivalente a sugerir que o processo de muda do caranguejo tem influência direta das marés, com o início (obstrução da abertura da toca) e o final (saída da toca após a muda) ocorrendo durante a maré de quebramento, (quadratura).

Na área de mangue delimitada, foi feito o acompanhamento diário durante uma maré de quebramento, sendo identificadas e marcadas as tocas de caranguejos que estavam se embatumando. Após a passagem de três fases lunares, correspondentes a três ciclos de marés: lançamento (sizígia), quebramento e lançamento, foi feito um novo acompanhamento, durante a maré de quebramento subseqüente, sendo então observada a desobstrução das tocas anteriormente marcadas, ocasião em que os caranguejos já haviam trocado a sua carapaça

Resultados

Classificação dos movimentos das marés associada ao ciclo lunar na visão dos catadores de caranguejo-uçá

A lua exerce grande influência sobre a vida na terra, sobretudo no ambiente marinho, uma vez que as marés são fortemente dependentes da posição da lua em relação ao nosso planeta. Diversos organismos marinhos costeiros têm suas atividades relacionadas às variações das marés. O padrão geral de atividade, de alimentação, de reprodução, e até mesmo a coloração, da grande maioria dos organismos que vivem junto à costa, especialmente na região de transição entre a maré baixa e a maré alta, varia consideravelmente de acordo com a influência da lua.

Desse modo, para aquelas comunidades tradicionais que vivem nas áreas costeiras, onde a pesca e a extração de recursos oriundos do manguezal constituem a principal fonte de renda, o conhecimento sobre a lua torna-se um fator preponderante na sobrevivência, em função da sua influência na organização das atividades de coletas e na biologia dos recursos explorados. A forma como os catadores de caranguejo classificam as variações das marés em função do ciclo lunar foi abordado por Nordi (1994a). Nishida (2000) também associou a atividade de catação de moluscos às fases da lua.

Nas ocasiões em que o sol, a lua e a terra estão alinhados, em sizígia (conjunção ou oposição), as forças de atração gravitacionais somam-se (Perkins 1974; Thurman 1997), sendo observado nesta situação as maiores amplitudes entre as marés altas e baixas, referida pela comunidade científica como "maré de sizígia", e de acordo com os catadores de caranguejo como "maré de lua".

Durante um período de aproximadamente sete dias, os astros movimentam-se, saindo de uma situação de conjunção, dirigindo-se para uma situação de quadratura, onde o sol e a lua formam um ângulo reto em relação à terra. Nessa situação, observam-se as menores variações entre as marés altas e baixas, referida pela comunidade científica como "maré de quadratura" e pelos catadores de caranguejo como "maré de quarto" (minguante ou crescente). Por alguns dias, próximo à quadratura, as oscilações entre as marés baixas e altas são mínimas. Este período é conhecido pelos catadores como "maré morta". O final da maré morta, quando a lua começa a mudar de fase (para quarto minguante ou crescente), é denominado pelos catadores de caranguejo como "cabeça de água morta" (Figura 3).

A variação entre os níveis das marés, referentes à passagem dos quartos de lua crescente e minguante para as luas nova e cheia, são denominadas pelos catadores de caranguejo como "maré de lançamento". Durante esse período, a maré eleva-se a cada dia, até atingir a altura máxima na lua cheia ou nova. Quando isso acontece, o mangue será inundado rapidamente, numa extensão maior na preamar, tornando-se mais descoberto na baixa-mar, como observado por Nordi (1994a).

Por ocasião da passagem das luas nova e cheia para os quartos crescente e minguante, têm-se as "marés de quebramento", que diminuem gradativamente a cada dia, até produzirem as oscilações mínimas próximo aos quartos de lua. Durante esse período, a porção inundável de mangue na preamar e descoberta na baixa-mar é menor.

Comprovação científica da hipótese sobre a ecdise do caranguejo-uçá, gerada pelos caranguejeiros.

Segundo os catadores de caranguejo-uçá do estuário do rio Mamanguape, o processo de troca da carapaça desse crustáceo apresenta uma estreita relação com as fases da lua e com sua conseqüente influência nas variações do nível das marés e na porção inundável do mangue. Esses trabalhadores usam o termo "embatumamento" para designar todo o processo que envolve a muda, quando o caranguejo enterra-se, fechando a abertura de suas galerias para troca do exoesqueleto.

Para os catadores, o caranguejo se "embatuma" (enterra-se para troca de "casco") preferencialmente nos "barrancos" (Figura 4), áreas mais elevadas e enxutas, embora também possam se embatumar no "mangue", áreas mais baixas e moles (Figura 5), onde predomina o mangue sapateiro (Rhizophora mangle). Os animais jovens geralmente vivem nos barrancos, pois eles trocam o exoesqueleto com maior freqüência, sendo portanto mais vantajoso para eles permanecerem nessas áreas, já que são mais apropriadas para a realização desse processo. Por outro lado, os caranguejos adultos, na maioria das vezes, vivem dentro do "mangue" e procuram os barrancos por ocasião da muda (ecdise). Os catadores ressaltam, ainda, que alguns caranguejos retardatários não conseguem fazer o "buraco" para se embatumar durante a maré de quebramento. Nesse caso, eles fazem uma "barroca" (buraco pequeno) ou procuram qualquer pequena depressão existente no substrato, onde permanecem até a ecdise. Nessa situação, quando a maré cobre o mangue, eles ficam susceptíveis à predação de alguns peixes, como o "bagre" (Arius herzbergii) e o "baiacu" (Sphaeroides testudineus) e de outros crustáceos como o "siri-açú" (Callinectes danae).

De acordo com os catadores amostrados, quando o caranguejo vai se embatumar, começa a limpar e retirar lama da toca (quando vive no "barranco"), enquanto aqueles que vem do "mangue", começam a cavar novo abrigo. Subseqüentemente o animal abastece a toca com alimento, que geralmente consiste de folhas e propágulos de plantas de mangue (preferencialmente de Rhizophora mangle), que serão utilizados durante o período em que o caranguejo permanecer entocado. Finalmente, obstrui a abertura da sua toca com lama (Figura 6), permanecendo enterrado até a troca e endurecimento da nova carapaça, período este que em geral dura cerca de 28 a 29 dias.

"A gente percebe que o caranguejo tá querendo se embatumar, pois ele entaipa o buraco. O caba chega aí vê o buraco novinho, com a lama em cima, na boca. Antes de embatumar, ele leva as folhas, leva o lápis do sapateiro, enche o buraco de "comida", até adurar umas três semanas. Aí ele descasca, aí limpa o buraco".

De acordo com os catadores, o início e o término do processo de "embatumamento" dependem diretamente das fases da lua e de sua influência nas variações do nível das marés. Eles sugerem que o início (obstrução da abertura da toca) e o final (saída da toca após a muda) do embatumamento ocorre durante a maré de quebramento (quadratura). Nessas ocasiões, o substrato do mangue, ainda úmido (mole), ofereceria condições favoráveis às etapas (inicial e final) do processo de ecdise da espécie U. cordatus.

Segue-se a transcrição de um depoimento colhido junto a um catador do distrito de Tramataia - PB, indicando a sua percepção quanto à muda e sua relação com as marés: "o caranguejo se embatuma no quebramento. Aí, três marés depois, ele abre o buraco, aí tá novo de novo; quando passa o lançamento, ele se embatuma, depois que a maré começa a não encobrir mais os barrancos. Ele só sai em cima dos barrancos. Ele sai de dentro do "mangue" pra riba dos barrancos, em cima dos barrancos ele faz o buraco e se embatuma quando a maré tá com uns três quebramentos".

Para os catadores, após uma situação de maré de lua (sizígia), os "barrancos" estão moles, e quando a maré começa a quebrar (diminuir a amplitude), o substrato oferece as condições propícias para escavação da galeria para realização do início do processo de ecdise. Embora tenha sido constatada a ocorrência de caranguejos se embatumando na "maré morta", observou-se uma redução significativa do número de embatumamentos, o que pode ser atribuído ao fato que a lama já se encontrava muito dura, dificultando a escavação da galeria.

Para os catadores, quando o caranguejo se embatuma, ele ainda está bom (com a carapaça dura), permanecendo assim durante o lançamento subseqüente, ficando de "leite" (quando apresenta uma substância leitosa no seu interior) no outro quebramento, quando ocorre o amolecimento e troca da carapaça. Entretanto, a nova carapaça não endurece no lançamento posterior, uma vez que o mangue está muito molhado, ficando mais enxuto somente quando a maré de preamar não encobre mais os barrancos (quebramento); só então, durante esse período, os caranguejos ficam com a carapaça endurecida e estão prontos para sair de suas tocas, já com a nova carapaça.

As atividades de campo mostraram que, a partir do quarto dia de quebramento, constatou-se a presença de caranguejos embatumados na área estudada, ocorrendo um aumento do número de embatumamentos durante os três dias subseqüentes (Figura 7), até um decréscimo no final da maré morta, quando a lua começou a mudar de fase (início da maré de lançamento). Considerando todos os dias acompanhados, foram marcadas 90 tocas de caranguejos recém embatumados na área delimitada.

No que diz respeito à saída dos caranguejos após a troca da carapaça (acompanhamento após três ciclos de maré), a partir do segundo dia da maré de quebramento, observou-se a abertura das galerias dos caranguejos embatumados, embora em número reduzido. Foi constatado um aumento do número de galerias abertas do terceiro ao sexto dia de quebramento, quando praticamente todos os caranguejos (87) que tiveram suas tocas previamente marcadas, haviam desobstruído a abertura da galeria (Figura 8).

Discussão

Maneschy (1993) destaca que a extração de caranguejo, assim como todas as atividades haliêuticas da zona estuarina e costeira, sofre a influência dos ciclos de maré. Os catadores de caranguejo-uçá capturam esta espécie durante o período de baixa-mar, ou seja, quando o manguezal não está alagado pelas águas marinhas, em decorrência dos movimentos das marés. Portanto, as fases da lua e as variações das marés influenciam diretamente em toda organização de trabalho desses profissionais. Nordi (1994a) ressalta que os catadores de caranguejo possuem um conhecimento elaborado acerca do comportamento da maré, em virtude da sua importância como fator regulador da atividade de "catação".

O conhecimento sobre a biologia do caranguejo torna-se importante para a atividade de catação, uma vez que as etapas do ciclo biológico podem ter interferência direta na produção dos catadores. Durante o período de acasalamento (andada), por exemplo, os caranguejos ficam perambulando no mangue, perdendo totalmente o instinto de defesa e fuga (Alcântara-Filho, 1978; Nascimento, 1993). Isto os tornam mais susceptíveis à ação dos catadores proporcionando um aumento na produção. Maneschy op. cit., em estudos realizados no Pará (Brasil), observou que quando os caranguejos começam a fechar as tocas para mudar a carapaça, as capturas se reduzem paulatinamente, visto que nessa época esses animais estão com a carapaça mole, sendo impróprios para o consumo. Ressalta, ainda, que logo após a troca de carapaça, eles estão magros e são menos saborosos.

A prática cotidiana dos catadores de caranguejo reflete-se numa percepção elaborada dos fatores físicos que estão relacionados às diversas etapas do ciclo de vida desse crustáceo. A ecdise do caranguejo-uçá é associada pelos catadores aos movimentos das marés. Os resultados obtidos neste trabalho evidenciaram a existência de uma sobreposição entre a percepção dos catadores e os dados observados cientificamente. A afirmação "o caranguejo se embatuma no quebramento, abrindo o buraco três marés depois", pode ser comprovada através dos dados analisados, que mostraram que o início e o final do processo de "embatumamento" acontece quando a amplitude entre as marés (altas e baixas) começa a diminuir (maré de quebramento), deixando paulatinamente de encobrir o "barranco".

Apenas três das tocas marcadas permaneceram obstruídas. Segundo os catadores, existem alguns caranguejos que morrem, ou porque já estão muito velhos, ou porque não conseguem desobstruir a abertura de sua toca durante a maré de quebramento, pois nas "cabeças de água morta" (final da maré morta, quando a lua começa a mudar de fase), o substrato do mangue já se encontra muito duro, o que impediria a desobstrução da abertura da toca. É importante salientar ainda que outros fatores físicos, além da maré, podem influenciar o embatumamento, como por exemplo, a pluviosidade, que pode ocasionar a permanência de substrato mole, mesmo na maré morta, possibilitando que aqueles caranguejos retardatários possam desobstruir a abertura de suas tocas durante esta etapa da maré.

No presente trabalho, observou-se que o período no qual o caranguejo permaneceu embatumado até a saída da galeria após o processo de ecdise, durou cerca de 28 a 29 dias. Tal constatação difere daqueles resultados obtidos em laboratório por Nascimento (1993), que estimou que o processo de muda tinha uma duração de 15 a 20 dias. Essa discordância de resultados, pode ser atribuída ao fato de que, em laboratório, torna-se bastante difícil simular os fatores ambientais característicos do ambiente de mangue que influenciam a ecdise do caranguejo, particularmente no que diz respeito à dinâmica das marés, que como foi constatado no presente trabalho, está diretamente relacionada a todo o processo.

Essa mesma autora, baseada em observações de laboratório, sugere que na fase de muda, o caranguejo tem seus movimentos diminuídos, ficando quase que totalmente paralisado e permanecendo entocado dentro da toca "tapada" durante quase todo o estágio. Conversas com os catadores e observações de campo, indicam que, durante todo o período de muda, o caranguejo permanece entocado, saindo de sua toca somente quando já apresenta a carapaça enrijecida. Todavia, o animal permanece ativo dentro de sua toca, devendo ficar imóvel apenas durante o "clímax" da ecdise, quando a carapaça velha se rompe para dar lugar à nova. O movimento do caranguejo embatumado pôde ser constatado, quando algumas tocas de caranguejos embatumados foram abertas e rastros recentes foram observados ao longo das paredes laterais das galerias.

"Quando o caranguejo se enterra ele não fica parado dentro do buraco. Somente durante o período em que ele troca a casca ele fica parado, até endurecer, se preparando para furar"

O caranguejo, ao cavar o substrato para se embatumar, deposita a lama nas proximidades da abertura da toca. Segundo observações de catadores, o tamanho do caranguejo é proporcional ao tamanho do batume (lama amontoada). Numa toca já obstruída, uma grande quantidade de batume é um indicativo de que o caranguejo é grande. Se a escavação da galeria se encontra em fases iniciais e a lama está sendo depositada longe da abertura da toca, tal fato também é percebido pelos catadores, os quais estabelecem a seguinte proporção: batume se amontoando longe da toca, significa que o caranguejo é grande; batume sendo formado junto a abertura da toca, o caranguejo é pequeno. Um caranguejo grande, ao se embatumar, cava uma toca mais profunda. Assim, se depositar a lama desde o início da escavação ao redor da sua toca, esta logo estará obstruída.

De acordo com os catadores, os caranguejos pequenos apresentam um comportamento diferenciado dos maiores, pois, se embatumam com maior freqüência para crescer, demorando cerca de dez anos para atingir o tamanho comercial. O grande embatuma com menor freqüência. Essa observação dos catadores é corroborada por diferentes autores, como Costa (1972) que observou que os caranguejos jovens mantêm suas galerias fechadas durante praticamente todo ano, sugerindo a existência de mudas freqüentes, sem período definido. Ivo e Gesteira (1999) também afirmam que nas fases larval e juvenil, as mudas de caranguejo-uçá ocorrem com bastante freqüência até atingir uma única muda anual, quando adultos, ressaltando que indivíduos velhos não mudam. Nascimento (1993), baseada em outros autores, entende que para o caranguejo-uçá atingir o tamanho comercial, seriam necessários cerca de dez anos, considerando a diminuição do número de mudas com o aumento da idade.

Diante dos resultados obtidos, torna-se indiscutível o reconhecimento da percepção ambiental que os catadores apresentam em relação aos fatores que estão relacionados ao ciclo de vida do caranguejo-uçá. Esse conhecimento é adquirido por meio da prática diária relacionada à exploração do recurso e é transmitida oralmente através de gerações. É importante salientar a existência de uma relação de equilíbrio entre as práticas de manejo desenvolvidas pelos catadores e o meio ambiente, impedindo assim, a depleção dos recursos em níveis que possam comprometer a manutenção dos seus estoques naturais. Desse modo, o conhecimento apresentado por esses trabalhadores pode fornecer subsídios importantes para a regulamentação da captura dessa espécie.

Segundo Nordi (1994), as leis burocráticas que regulamentam a pesca do caranguejo-uçá são quase sempre inócuas porque não observam a sabedoria dos catadores e muito menos contemplam a situação de marginalidade econômica e social em que vivem.

Considerações Finais

A captura artesanal do caranguejo-uçá representa uma das atividades econômicas mais importantes para um grande número de pessoas que vivem próximas aos manguezais no estado da Paraíba. A diminuição dos estoques naturais dessa espécie, sobretudo após a ocorrência de uma mortandade acentuada, registrada nos últimos três anos, tem preocupado os órgãos ambientais e governamentais, dada a importância ecológica e econômica do caranguejo na região. Nishida (2000) ressalta que a diminuição do estoque de U. cordatus na Paraíba foi sem precedentes e que o fato tem causado sérios problemas sociais, colocando em risco o estoque de outras espécies de crustáceos pelo efeito de sobrepesca, a exemplo do que está acontecendo com o goiamum (Cardisoma guanhumi) e o aratu de mangue (Goniopsis cruentata) este, antes do fenômeno relatado acima, pouco explorado.

As normas de regulamentação da captura da espécie U. cordatus se mostram ineficientes em virtude da falta de programas de conscientização da população, de alternativas de trabalho para os catadores de caranguejo durante o período reprodutivo (andada) e de uma fiscalização eficiente por parte dos órgãos ambientais. Além disso, como foi observado por Nordi (1994a), desconsideram o saber popular. Desse modo, excluem a participação daquelas pessoas que realmente praticam o manejo do recurso e detêm um conhecimento elaborado sobre a sua biologia.

Por meio dos resultados obtidos neste estudo, fica evidente que as populações envolvidas com a catação de caranguejo podem fornecer informações importantes que venham a subsidiar estudos científicos e, ainda, contribuir para o estabelecimento de normas que regulamentem a atividade de catação. Para Diegues (1999), a contribuição do conhecimento tradicional pode ir além da questão da biodiversidade, oferecendo a possibilidade do estabelecimento de outros critérios para definição de políticas de conservação, além daqueles das ciências naturais

É importante destacar que com a atual crise econômica e o alto índice de desemprego registrado no Brasil, muitos vêem os manguezais como uma alternativa de trabalho, aumentando a pressão sobre aqueles recursos mais importantes economicamente, como o caranguejo-uçá. Dessa forma, é crescente o aumento do número de indivíduos que acorrem aos manguezais em busca de uma fonte de subsistência, sendo a captura do caranguejo-uçá uma das atividades mais praticadas por estes. Esses novos "catadores" não dominam as técnicas de captura praticadas pelos catadores tradicionais. Em busca de maior eficiência de exploração a um menor esforço físico, introduzem novas técnicas de captura, consideradas predatórias, como é o caso da redinha (armadilha confeccionada com a utilização de fios de sacos de nylon). Botelho et al. (2000), observaram que aquelas pessoas, oriundas da agropecuária, construção civil, transporte e outras atividades, que pouco ou nada têm a ver com a profissão de catador de caranguejo, normalmente não demonstram preocupação com a preservação do recurso e do ambiente.

Os catadores tradicionais, que possuem profundo conhecimento sobre o ciclo biológico da espécie U. cordatus mostram uma preocupação constante com a preservação da espécie, uma vez que dependem diretamente desse recurso para sua sobrevivência. Este trabalho fundamentou-se no saber empírico desse tipo de catador, cuja vida está intimamente ligada aos ciclos naturais e ao recurso explorado, refletindo na elaboração de estratégias de uso e manejo do recurso que não ameaçam a conservação da espécie.

Dessa maneira, faz-se necessária uma revisão das normas adotadas pelos órgãos ambientais, uma vez que as populações ligadas ao recurso não são incorporadas como atores chaves para a tomada de decisões, sendo ignorado o saber e a realidade social dessas populações. O correto gerenciamento dos recursos costeiros é imprescindível para a população que usufrui dos mesmos. Da mesma forma, o uso racional desta base de recurso finito depende de uma legislação eficiente e em sintonia com as comunidades diretamente envolvidas. Segundo Diegues (1999), os estudos de etnomanejo indicam que, ao se associar o conhecimento tradicional sobre o tema, pode-se conseguir uma conservação da natureza mais eficaz e, sobretudo, mais justa.

AGRADECIMENTOS

Aos catadores de caranguejo-uçá da Paraíba, pelos ensinamentos que fundamentaram essa pesquisa. A Robson T.C. Ramos e Thelma Dias, pelos comentários e sugestões propostos durante o desenvolvimento do trabalho. A Iêrece L. Rosa e Gabriel O. S. Sugliano, pela tradução dos resumos para o inglês e espanhol respectivamente. Ao NEPREMAR, Universidade Federal da Paraíba. A CAPES, ao WWF–Brasil e USAID, pelo apoio financeiro.

Figura 1. Mapa da área estudada. Tomado de Paludo e Klonowski, 1999.

Figura 2. Visão aérea da desembocadura do estuário do rio Mamanguape. Foto: Dirceu Tortorello

Figura 3. Classificação das marés associadas ao ciclo lunar pelos catadores de caranguejos. Tomado de Nishida, 2000.

Figura 4. "Barranco", áreas mais elevadas e enxutas situadas próximas às margens do rio. Foto: Alberto Kioharu Nishida.

Figura 5. "Mangue", áreas menos elevadas e mais úmidas, situadas distantes as margens do rio. Foto: Alberto Kioharu Nishida.

Figura 6. Galeria fechada de Ucides cordatus, mostrando o aspecto da lama recente, denunciando o início do processo de muda do caranguejo-uçá. Foto: Alberto Kioharu Nishida.

Figura 7. Número de caranguejos recém embatumados durante a maré de quebramento () e amplitude de maré alta ( ) e baixa ( ). L.Ch.: Lua cheia: L. Min.: Lua minguante

Figura 8. Número de tocas abertas após a muda, durante maré de quebramento. () e amplitude de maré alta ( ) e baixa ( ). L.Ch.: Lua cheia: L. Min.: Lua minguante

 

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