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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.28 n.12 Caracas dic. 2003

 

ORIGINALIDADE E DUPLICAÇÃO EM PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

Dois artigos de uma chamativa semelhança apareceram a finais de 2002 nas revistas Interciência (Vol. 27, novembro) e Ecología Austral (Vol. 12, dezembro). Mesmo os dois escritos não sendo estritamente idênticos, a informação utilizada, os métodos empregados, e as conclusões apresentadas permitem deduzir que transmitem ao leitor a mesma mensagem.

O problema não é novo. Revistas prestigiosas como Oikos (Malmer N, Oikos 77: 3, 1997) já tem advertido com preocupação o aumento desta espécie de "auto-plagio" e tem tomado posições cada vez mais severas diante disto. Com relação ao caso dos dois artigos de Interciência e Ecología Austral, e para evitar realizar uma advertência sem fundamentos, realizamos uma análise tanto quantitativa como qualitativa dos mesmos e temos confirmado que se trata do que Malmer denominou "publicações duplicadas". Nossa conclusão neste caso particular é que se os autores de um destes dois artigos houvessem visto publicado o outro artigo em outra revista sob o nome de outros autores, sem duvidas haveriam pensado na existência de plagio. Neste caso, desde logo, os autores são os mesmos com pequenas diferenças na ordem dos nomes.

Ainda que ambos artigos não sejam idênticos, os Editores das duas revistas consideram que o grau de semelhança é tão alto que não se cumpre o requisito estabelecido de ser trabalhos originais. Nem sequer neste caso se poderia considerar que um dos artigos tenha o caráter de revisão (overview) de maneira que fosse aceitável que um estivesse "incluído" no outro. As atividades de publicação científica implicam um enorme esforço de tempo não remunerado de diversos especialistas, dos editores e seus assistentes, sem mencionar o custo envolvido e o limitado espaço disponível nas revistas. Tem também muita importância para nós o respeito que lhe devemos a nossos leitores, quem se sentirão frustrados de ver o grau de semelhança entre estes dois artigos, em especial nas épocas atuais em que os meios de indexação internacionais permitem localizar artigos como estas duas "copias" de maneira quase imediata. Todo leitor que obtenha como resultado de uma busca em bases de dados bibliográficas estas duas referencias e se surpreenda em observar o grau de semelhança, ficará desencantado da seriedade de ambas revistas, afetando assim o prestígio das mesmas. Por isto, e por respeito aos Editores anteriores, que com tanto esforço e cuidado cultivaram o prestígio de Ecología Austral e de Interciência, temos considerado necessário fazer pública esta situação e advertir sobre sua seriedade e o mal produzido.

Creemos que este problema é uma evidencia mais das reações indesejáveis que as vezes se produzem como resposta à pressão por publicar. Desde logo não é a única forma de resposta. É usual ver com crescente freqüência fenômenos como o da subdivisão de trabalhos de investigação em múltiplos artigos, reduzidos ao que Malmer tem chamado "unidades publicáveis mínimas". Também é relativamente freqüente, e praticamente impossível de provar, a inclusão como autores de alguns trabalhos a investigadores que não tem participado na investigação mesma ou na redação do artigo (as vezes nem sequer na leitura do mesmo) como parte de um intercâmbio de "mútuos favores".

Em todos estes casos, ainda sem considerar os aspectos econômicos, existem sérias conseqüências deste tipo de problemas. Por um lado, sem dúvida se trata de um espaço desperdiçado, que poderia haver sido frutíferamente utilizado por outros trabalhos que cumpram os requisitos de originalidade e que reflitam a verdadeira participação dos autores. Mas, adicionalmente, a duplicação vulnera princípios éticos que constituem a essência da atividade acadêmica e a coluna vertebral da investigação científica. Por outro lado, lesiona seriamente a base de confiança que deve existir entre editores, autores e leitores. Assim como os autores confiam na honestidade dos editores em quanto à imparcialidade e seriedade técnica do processo de arbitragem, também os editores devem poder confiar em que os autores respeitam as condições impostas pelas publicações, que são básicas para que por sua vez os leitores confiem na responsabilidade e rigor das revistas científicas.

Ainda que os métodos eletrônicos modernos facilitam cada vez mais a detecção deste tipo de infrações, contamos com que os autores que confiam na qualidade científica de Ecología Austral e de Interciência manterão a excelente conduta que tem vindo mostrando, e apelamos a continuar o comportamento ético tão crítico para a atividade de investigação científica.

Jorge Rabinovich. Editor, Ecología Austral

Miguel Laufer. Editor, Interciencia