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Cuadernos del Cendes

versión impresa ISSN 1012-2508

CDC vol.30 no.83 Caracas ago. 2013

 

Vinte anos da Associação Latino-Americana de Estudos do Trabalho (ALAST)

José Ricardo Ramalho*

* Professor de Sociologia do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do CNPQ e da Faperj e co-editor da Revista Latino-Americana de Estudos do Trabalho (RELET). Correo-e: josericardoramalho@gmail.com

A realização do VII Congresso Latino-Americano de Estudos do Trabalho, em São Paulo, Brasil, nos dias 2 a 5 de julho de 2013, foi uma demonstração de vitalidade da comunidade de estudiosos do trabalho na América Latina. Com o título «Mudanças, impactos e perspectivas», o evento científico, promovido pela ALAST – Asociación Latinoamericana de Estudios del Trabajo, teve cerca de 519 participantes inscritos entre pesquisadores, estudantes de graduação, pós-graduação, profissionais de estudos do trabalho, além de observadores que elevaram a participação efetiva no Congresso para mais de mil pessoas. Da America Latina estiveram presentes representantes do Brasil; México; Argentina; Uruguai; Chile; Colômbia; Bolívia; Cuba; Venezuela; Equador, Peru; e Haiti. Houve também representantes de outros países do mundo.

Foram apresentados 330 papers; 41 pôsteres; 35 conferências; 9 mesas redondas; 18 grupos de trabalho;16 fóruns;8 mini cursos;4 lançamentos de livros; 4 encontros de autores com leitores;2 homenagens; 4 painéis, totalizando 8 conferências magnas e uma sessão especial sobre as manifestações de rua no Brasil.

Fundada em 1993, no México, a ALAST completou neste VII Congresso 20 anos de consolidação das várias redes de pesquisas na área de estudos do trabalho, sempre promovendo a reunião e o debate de cientistas sociais de diferentes países, estimulando o aprofundamento de pesquisas comparativas, de novos temas e de novos debates teóricos. A Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo (RELET) (relet.iesp.uer.br) é a principal publicação da ALAST e seu número 29 foi lançado na inauguração do Congresso.

Em uma primeira avaliação feita pela diretoria da ALAST,1 os principais pontos de destaque do VII Congresso foram: a) o aprofundamento da interdisciplinaridade, com a presença de pesquisadores da sociologia, antropologia, ciência política, economia, história, direito, e psicologia social; b) a presença de novos temas como, por exemplo, mercados de trabalho e sexualidades dissidentes, trabalho e emoções, trabalho de cuidado, trabalho de gerentes e diretores, trabalhos e trabalhadores não convencionais, trabalho artístico, entre outros; c) o diálogo entre estudiosos do trabalho urbano e do trabalho rural; d) o destaque de várias abordagens aos temas de gênero e; e) o debate sobre o significado das manifestações de rua em junho de 2013 no Brasil.

Entre os temas mais abordados estavam: a nova configuração global e o trabalho na America Latina; modelos de desenvolvimento na região e iniciativas de integração regional sobre o trabalho; novas formas de dominação, subordinação e resistência; o espaço para ações coletivas estruturadas; o lugar das novas utopias; o papel de experiências alternativas de geração de trabalho e renda, como o trabalho associativo e autogestionário; as transformações do movimento sindical; a emergência de novos movimentos sociais e sua relação com o trabalho; as novas tendências de regulação das relações de emprego; a reconfiguração das relações de gênero; as mudanças na saúde das trabalhadoras e trabalhadores; as questões demográficas e geracionais no debate sobre o trabalho; as políticas públicas e suas implicações para o trabalho.

A ALAST e a RELET surgiram nos anos 90 em uma conjuntura marcada pela globalização e por transformações no mundo do trabalho em função de um proceso de reestruturação da produção com características fordistas. De acordo com Marcia Leite,2 presidente da ALAST no período 2010-2013, essas mudanças no processo produtivo estimularam os estudos latino-americanos a investigar o modo como as empresas instaladas no continente buscaram se adaptar às técnicas do «modelo japonês» e de que como afetaram os trabalhadores e suas organizações. A crítica que se construiu enfatizou as especificidades da região que apresentava um fraco investimento em novas tecnologias; uma organização do trabalho que não reproduzia as técnicas japonesas; e a manutenção dos princípios fordistas e tayloristas. Para a autora, novos temas também surgiram neste contexto de organização do trabalho: a subjetividade dos trabalhadores frente às mudanças, as práticas sindicais diante das transformações na produção; e a questão de gênero no processo de modernização das empresas.

Leite (ibidem:4) considera que a partir do final dos anos 90, a realidade do emprego e do mercado de trabalho, fruto de políticas de características neoliberais, ganha um dimensão de dramaticidade, e a investigação sociológica se volta também para pesquisar as situações de «precarização do trabalho». A flexibilização das relações de trabalho e o acentuado apelo à terceirização por parte das empresas articuladas em cadeias produtivas, permitiram trazer à baila a dimensão de gênero e a constatação de que usavam uma força de trabalho pouco qualificada e mal paga. O olhar sobre o mercado de trabalho também inaugurou o tema da «precarização do trabalho».

Uma nova pauta para os estudiosos do trabalho se coloca a partir do fim dos anos 2000, quando importantes mudanças econômicas ocorrem na America Latina. Segundo Leite (Ibidem:5), destaca-se, nesse contexto, as mudanças políticas ocorridas em diversos países em oposição ao projeto neoliberal implantado ao longo dos anos 90 e a adoção de uma perspectiva de desenvolvimento econômico e social voltadas para a criação de empregos e redução da desigualdade. Também uma nova realidade sindical, que se coloca no contexto de desenvolvimento econômico e liberdades políticas, passou a ser objeto de estudos da sociologia do trabalho, principalmente em países como Brasil, Argentina e Uruguai. Para Leite, isto significa que varios países da América Latina, enfrentam o desafio de buscar caminhos alternativos e inserem-se na mundialização de uma forma mais autônoma.

A presidente da ALAST (ibidem: 9,10) considera que esse novo quadro coloca desafios à sociologia do trabalho latino-americana, na medida em que introduz questões teórico-metodológicas ainda pouco exploradas, como a necessidade de discutir a heterogeneidade da região, a existencia de realidades diversas com implicações diversas sobre o trabalho; a necessidade de discutir a heterogeneidade que marca os mercados de trabalho de cada um dos países, e sua convivência com tendências precarizadoras, provocadas, sobretudo, pelos processos de terceirização; a importancia de discutir a emergência de novos problemas sociais e, sobretudo, ambientais, os quais se relacionam diretamente com os interesses do grande capital internacional e com as pressões que os governos têm sofrido para apoiar vultosos investimentos corporativos, via de regra, ignorando os interesses dos trabalhadores e das populações tradicionais que vivem nas regiões afetadas pelas grandes obras.

O VII Congresso da ALAST permitiu, em resumo, a possibilidade de um debate atualizado, com desdobramentos promissores para a comunidade de estudiosos do trabalho da America Latina. Cumpriu o seu objetivo de viabilizar, em perspectiva interncional, um diálogo acadêmico e político efetivo em torno das novas questões que envolvem o mundo do trabalho em um contexto de iniciativas de integração regional e novos projetos de desenvolvimento económico estimulado pelo Estado, de disputa em torno da regulação do trabalho e das novas formas de participação dos sindicatos e movimentos sociais.

Notas:

1 Marcia de Paula Leite, Relatório Científico - VII Congresso Latino Americano de Estudos do Trabalho, São Paulo, 2013.

2 Marcia de Paula Leite, «Editorial» Revista Latino-Americana de Estudos do Trabalho, ano 18, n° 29, 2013, Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ-IESP/UERJ.