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Archivos Latinoamericanos de Nutrición
versión impresa ISSN 0004-0622versión On-line ISSN 2309-5806
ALAN v.55 n.2 Caracas jun. 2005
Análise comparativa de métodos de avaliação da composição corporal em homens sadios e em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica: antropometria, impedância bioelétrica e absortiometria de raios-X de dupla energia
Ismael Forte Freitas Júnior, Sérgio Alberto Rupp de Paiva, Irma de Godoy, Suhaila Mahmoud Smaili Santos, Álvaro Oscar Campana
Facultad de de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente, Brasil, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, Brasil, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, Brasil
Este estudo foi parcialmente financiado pelo Curso de Pós-Graduação de Fisiopatologia em Clínica Médica - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP
RESUMO. O trabalho teve, como objetivo principal, verificar se a antropometria (ANT) e a impedância bioelétrica (BIA) fornecem resultados concordantes com os obtidos pela absortiometria de raios-X de dupla energia (DXA), quanto à massa (MG) e à porcentagem de gordura (%GC), à massa livre de gordura corporal (MLG) e ao índice de MLG (IMLG= MLG/estatura2), em indivíduos adultos (³ 50 anos), do sexo masculino, sadios (n=23) e em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (n=24). As comparações entre as técnicas de composição do corpo foram feitas utilizando ANOVA por medidas repetidas; para análise de concordância, utilizou-se o procedimento de Bland & Altman. Resultados e Conclusões: 1) valores obtidos no grupo sadio foram significantemente diferentes dos observados no grupo com DPOC; 2) não foram observadas diferenças significantes, nos indivíduos sadios, entre DXA ´ BIA e entre DXA ´ ANT; em DPOC, a comparação entre DXA ´ BIA revelou, para BIA, valores estatisticamente maiores para MG e %GC e menores para MLG e IMLG; na comparação DXA ´ ANT, não houve diferenças significantes entre as variáveis; 3) a aplicação do teste de Bland & Altman, em ambos os grupos, mostrou falta de concordância na comparação da BIA com DXA e, também, da ANT com DXA; verificou-se, também, superestimação da gordura corporal e subestimação da MLG pela BIA, em relação à DXA.
Palavras-chave: Impedância bioelétrica, absortiometria de raios-X de dupla energia, antropometria, massa livre de gordura, massa de gordura, DPOC.
SUMMARY. Comparative analysis of body composition assessment methods in healthy men and in chronic obstructive pulmonary disease patients: anthropometry, bioelectrical impedance and dual-energy X-ray absorptiometry. The aim of this study was to examine the agreement between the results of body fat (BF and BF%), fat-free mass (FFM) and FFM index (FFMI= FFM/height2) as estimated by skinfold anthropometry (ANT), bioelectrical impedance (BIA) and dual-energy X-ray absorptiometry (DXA) in two groups of men (³ 50 y), one comprising healthy individuals (n=23) and the other, patients with chronic obstructive pulmonary disease (COPD) (n=24). Comparisons between body composition techniques were done by repeated measures ANOVA; the Bland & Altman procedure was used to analyse agreement. Results and Conclusions: 1) comparison between healthy and COPD groups showed significant differences between all studied variables; 2) in the healthy group, values for BF, BF% , FFM and FFMI were not significantly different when BIA or ANT was compared to DXA; however, in COPD, values for BF and BF% were significantly higher and for FFM and FFMI significantly lower when BIA was compared to DXA; in contrast, no differences were shown between values for these variables when ANT was compared with DXA; 3) Bland & Altman test, in both groups, showed no agreement between BIA and DXA and between ANT and DXA; it was also shown that body fat was overestimated and fat free mass underestimated by BIA in relation to DXA.
Key words: Bioelectric impedance, dual energy X-ray absorptiometry, anthropometry, fat-free mass, fat mass, COPD.
INTRODUÇÃO
Entre os objetivos importantes dos estudos relacionados com a composição do corpo, ressaltam-se a estimativa do grau de obesidade e o teor de massa do corpo desprovida de gordura, a massa magra. Nesse contexto, a posição atual é que o índice de massa do corpo é uma estimativa imprecisa da massa de gordura e da massa magra e não fornece informação sobre se as alterações de peso resultam de decréscimo de massa magra ou de aumento de gordura (1). Atualmente, estão disponíveis, para análise da composição do corpo, técnicas relativamente simples, como as que empregam os valores das pregas cutâneas e a impedância bioelétrica, e técnicas mais complexas, como a hidrodensitometria, a diluição de isótopos e a absortiometria de raios-X de dupla energia, entre outras (2).
Quanto à antropometria, as pregas cutâneas têm sido utilizadas para avaliação da gordura corporal, tanto na área clínica como na área de saúde pública (3-5). Esta técnica fornece resultados de precisão limitada quando o teor de gordura é calculado a partir da medida de apenas uma prega cutânea (5,6); ocorre, entretanto, melhora da reprodutibilidade dos dados quando os valores de várias pregas são utilizados (4, 5).
A impedância bioelétrica tem sido empregada na área clínica nos últimos dez anos. Esta técnica foi também utilizada em estudos populacionais amplos como no Cardiovascular Health Study (7) e no National Health and Nutrition Examination Survey III, desenvolvido nos Estados Unidos, no período de 1988 a 1994 e que incluiu mais de 7000 participantes (8).
A absortiometria de raios-X de dupla energia é um procedimento de avaliação não traumática da composição corporal, que tem sido freqüentemente utilizada em investigação e na prática médica na última década, fornecendo informações sobre três compartimentos: massa de gordura, massa livre de mineral e de gordura e massa de mineral ósseo total do corpo (9-13).
No presente trabalho, a composição do corpo foi avaliada em dois grupos de indivíduos do sexo masculino, de 50 anos ou mais: um grupo de indivíduos sadios e um grupo de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Três técnicas foram utilizadas para estudo da composição do corpo: antropometria, impedância bioelétrica e absortiometria de raios-X de dupla energia; estas técnicas levaram à estimativa do teor de gordura e da massa livre de gordura do corpo. O principal objetivo do trabalho consistiu em verificar se a antropometria e a bioimpedância elétrica fornecem resultados concordantes com os obtidos pela absortiometria, quanto à gordura e à massa livre de gordura corporal.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Foram estudados dois grupos de indivíduos do sexo masculino, de idade igual ou acima de 50 anos, um sadio (Grupo Sadio, n=23) e outro, com doença pulmonar obstrutiva crônica (Grupo DPOC, n=24). O grupo sadio foi constituído a partir de funcionários, docentes e moradores da cidade de Botucatu - SP. O grupo com DPOC foi recrutado a partir do cadastro de pacientes atendidos no ambulatório do Hospital das Clínicas e acompanhados pelo serviço de Pneumologia da Faculdade de Medicina de Botucatu-SP. Todos os participantes do estudo foram submetidos à observação clínica, ao exame físico, a exames laboratoriais hematológicos e bioquímicos de sangue, provas de função pulmonar, radiografia de tórax e eletrocardiograma em repouso. Tais procedimentos tiveram por finalidade, no grupo sadio, afastar a existência de afecções clínicas, especialmente aquelas que pudessem interferir na composição corporal. O grupo sadio foi composto por indivíduos assintomáticos, que não faziam uso regular de medicações de qualquer espécie e que apresentavam valores das provas de função pulmonar dentro dos limites de normalidade, segundo a American Thoracic Society (14). Quanto ao grupo com doença pulmonar obstrutiva crônica, o diagnóstico da doença de base foi feito por meio de dados de história clínica, exame físico, critérios radiológicos e provas de função pulmonar, de acordo com a Iniciativa Global para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - 1998 (15). Estas incluíram o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1 - em litros e em porcentual do valor predito), a capacidade vital forçada (CVF - l) e VEF1/CVF. A relação VEF1/CVF devia estar abaixo de 70% em todos os casos. Faziam parte deste grupo os pacientes que estavam em condições clínicas estáveis na época da realização dos exames, sem apresentar qualquer manifestação de insuficiência cardíaca, não afetados por outras condições que interferissem no estado nutricional, como neoplasias, doenças sistêmicas, renais e hepáticas, diabetes mellitus e alcoolismo, e que não recebiam suplementação alimentar.
O protocolo deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP.
Medida da composição corporal
A composição corporal foi estimada por três técnicas: antropometria (ANT), impedância bioelétrica (BIA) e absortiometria de raios-X de dupla energia (DXA). As medidas antropométricas foram obtidas de acordo com procedimentos descritos por Lohman et al. (16) e incluíram: peso corporal (P), estatura (E), índice de massa corporal (IMC=P/E2) e pregas cutâneas: subescapular-PSE, tricipital-PT, bicipital-PB e suprailíaca-PSI. Estas foram medidas com adipômetro modelo Lange, marca Cambridge Scientific Industries, com precisão de 0,2 mm. A estimativa da gordura do corpo, a partir das pregas cutâneas, foi feita de acordo com o procedimento de Durnin & Womersley (3), que utiliza o logaritmo do somatório de quatro pregas cutâneas (PSE, PT, PB e PSI) para cálculo da densidade corporal e a equação de Siri (17), para estimativa final do percentual de gordura (%GC). A partir deste valor, calcularam-se a massa de gordura (MG) e a massa livre de gordura (MLG), ambas em kg.
A análise da composição corporal pela BIA foi feita com aparelho modelo BIA analyzer - 101A, marca RJL systems, Detroit. O aparelho utiliza corrente elétrica de baixa intensidade (0,8mA) e de baixa freqüência (50kHz). Quatro eletrodos foram posicionados no hemicorpo direito: dois no dorso da mão (eletrodos transmissores) e dois no dorso do pé (eletrodos receptores), tal como referido por Heyward & Stolarczyk (18). Por esta técnica, estimaram-se os valores de MLG, MG e %GC. Estes valores foram obtidos a partir de equações incorporadas no próprio equipamento; a equação do aparelho RJL, para massa livre de gordura, foi publicada por Segal et al. (19).
Para estimar a composição corporal pela absortiometria, foi utilizado o equipamento marca Hologic modelo QDR 2000/Plus (Hologic, Waltham) e o software versão 5.56. A técnica consiste na utilização de uma fonte de raios-X e na passagem destes através de filtro de terra rara (cério ou samário), com o que são obtidos fótons com dois níveis de energia (40 e 70 KeV). O feixe de fótons é dirigido para os tecidos, ocorrendo interações entre os elementos constituintes destes e os fótons. Há, então, atenuação de fótons, que varia de acordo com a constituição tecidual local. Isto permite a diferenciação dos tecidos, analisados em detector. No presente trabalho, foram considerados os valores da massa de gordura (MG) e da massa livre de gordura (MLG), que corresponde à soma da massa livre de mineral e gordura + massa de mineral ósseo.
Os valores de MLG, estimados pelas três técnicas, foram utilizados para calcular o índice de massa livre de gordura (IMLG) que corresponde ao valor de MLG dividido pela estatura ao quadrado (MLG/E2)
Análise estatística
Os dados obtidos são expressos na forma de médias e medidas de dispersão. Para a comparação de médias, utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes.
Para a comparação das técnicas, utilizaram-se, como referência, os valores obtidos pela DXA; desta maneira, compararam-se DXA x ANT e DXA x BIA. Os procedimentos estatísticos adotados foram: 1) análise de variância de medidas repetidas, com comparação entre as médias, complementada com o teste de comparações múltiplas de Dunnett; a significância foi estabelecida em P<0,05; 2) método de concordância de Bland & Altman (20), que permitiu estabelecer os limites de concordância entre os resultados relacionados à composição corporal, obtidos por duas técnicas diferentes.
RESULTADOS
Na Tabela 1, os valores relacionados à composição do corpo foram obtidos por absortiometria. O grupo sadio era formado por indivíduos mais jovens, de peso maior e com valor médio de IMC significantemente maior que o grupo com DPOC. Apresentavam, também, valores das provas de função pulmonar significantemente mais altos que o grupo de pacientes. Quanto ao IMC, verificaram-se valores acima de 25,0 kg/m2 em 17 dos 23 indivíduos sadios e nenhum valor abaixo de 20,0 kg/m2, ao passo que em nove dos 24 pacientes com DPOC esses valores foram menores que 20,0 kg/m2 e, em apenas três casos, os valores foram maiores que 25,0 kg/m2. Os grupos diferiram, ainda, quanto à gordura corporal, expressa em porcentagem, à massa livre de gordura e ao índice de massa livre de gordura, cujos valores foram significantemente menores nos pacientes com DPOC.
TABELA 1
Valores médios e desvios-padrão de idade, variáveis antropométricas e provas de função pulmonar nos grupos de estudo
Variáveis Grupos de estudo
Sadio DPOC
n = 23 n = 24
Idade (anos) 57,8 + 7,9 63,8 + 8,2**
Peso do corpo(kg) 75,0 + 9,6 58,2 + 8,7**
Estatura(cm) 168,2 + 6,6 165,6 + 6,8
IMC(kg/m2) 26,5 + 3,2 21,2 + 3,1**
GC *(%) 24,1 + 6,2 20,3 + 6,9**
MLG *(kg) 56,6 + 6,7 46,1 + 5,7**
IMLG *(kg/m2) 20,0 + 2,0 16,8 + 1,9**
VEF1(%) 108,6 + 15,0 34,9 + 14,1**
VEF1/CVF(%) 77,5 + 3,0 36,8 + 9,1**
IMC = índice de massa corporal; GC = porcentual de gordura corporal; MLG = teor de massa livre de gordura corporal; IMLG = massa livre de gordura/estatura2; VEF1 = volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF = capacidade vital forçada; VEF1/CVF = volume expiratório forçado no primeiro segundo dividido pela capacidade vital forçada. * Valores das variáveis relacionadas à composição do corpo obtidos por absortiometria. * * = valores do Grupo DPOC significantemente diferentes do Grupo Sadio (P<0,05).
Comparação das técnicas
Na Tabela 2, estão registrados os valores médios e os desvios-padrão das variáveis estimadas pelas três técnicas, nos indivíduos sadios. As comparações das médias não revelaram diferenças significantes entre os resultados da BIA em relação à DXA e também da ANT em relação à DXA.
TABELA 2
Valores médios + desvios-padrão das variáveis da composição corporal do grupo de indivíduos sadios
Variáveis Técnicas de estudo P
DXA BIA ANT
MG (kg) 18,4 + 6,3 20,1 + 5,2 18,4 + 8,5 ns
GC (%) 24,1 + 6,2 26,5 + 4,9 24,3 + 8,4 ns
MLG (kg) 56,6 + 6,7 54,9 + 6,4 56,6 + 4,9 ns
IMLG (kg/m2) 20,0 + 2,0 19,4 + 2,1 20,5 + 1,5 ns
DXA = absortiometria de raios-X de dupla energia; BIA = impedância bioelétrica; ANT = antropometria; MG = teor de massa de gordura; GC = porcentual de gordura corporal; MLG = teor de massa livre de gordura corporal; IMLG = índice de massa livre de gordura corporal; valor de P para a análise de variância; ns = não significante.
Na Tabela 3, estão registrados os valores médios e os desvios-padrão das variáveis estimadas pelas três técnicas, nos pacientes com DPOC. A análise de variância, complementada com teste de Dunnett, revelou haver diferença significante (P<0,05) entre os valores obtidos pela BIA em relação à DXA; assim, os valores de MG e %GC foram maiores e os valores de MLG e IMLG, menores, quando estimados pela BIA, em relação à DXA. Os valores estimados pela ANT não foram significantemente diferentes daqueles obtidos pela DXA.
TABELA 3
Valores médios + desvios-padrão das variáveis da composição corporal do grupo de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica
Variáveis Técnicas de estudo P
DXA BIA ANT
MG (kg) 12,0 + 5,4 13,7 + 4,3* 11,9 + 5,3 0,005
GC (%) 20,3 + 6,9 23,3 + 5,4* 19,9 + 6,9 0,002
MLG (kg) 46,1 + 5,7 44,6 + 6,3* 46,2 + 5,3 0,010
IMLG (kg/m2) 16,8 + 1,9 16,3 + 1,9* 16,8 + 1,6 0,017
DXA = absortiometria de raios-X de dupla energia; BIA = ímpedância bioelétrica; ANT = antropometria; MG = teor de massa de gordura; GC = porcentual de gordura corporal; MLG = teor de massa livre de gordura corporal; IMLG = índice de massa livre de gordura corporal; valor de P para a análise de variância; * = valores diferentes estatisticamente (P<0,05) em relação aos obtidos pela DXA.
Análise de concordância
Os resultados do estudo da concordância (DXA x BIA e DXA x ANT), relacionado ao porcentual de gordura e à massa livre de gordura, expressa em kg, são apresentados graficamente nas Figuras 1 e 2.
FIGURA 1
Avaliação da concordância no grupo de indivíduos sadios entre: porcentagem de gordura estimada pela absortiometria e bioimpedância (A); porcentagem de gordura estimada pela absortiometria e antropometria (B);massa livre de gordura estimada pela absortiometria e bioimpedância (C) e massa livre de gordura estimada pela absortiometria e antropometria (D)
FIGURA 2
Avaliação da concordância no grupo de indivíduos com DPOC entre: porcentagem de gordura estimada pela absortiometria e bioimpedância (A); porcentagem de gordura estimada pela absortiometria e antropometria (B);massa livre de gordura estimada pela absortiometria e bioimpedância (C) e massa livre de gordura estimada pela absortiometria e antropometria (D)
Grupo Sadio - Quanto à gordura corporal, na comparação de DXA x BIA, os vieses negativos (-1,7kg para MG e -2,3% para %GC), indicam que as estimativas da gordura foram maiores pela BIA em relação à DXA; os limites de concordância variaram de 5,0 a -8,4kg para MG e de 6,2 a -10,8% para %GC. Na comparação de DXA x ANT, embora os vieses apresentassem valores baixos (-0,03kg para MG e -0,1% para %GC), os limites de concordância variaram de 8,7 a -8,7kg para MG e de 10,4 a -10,6% para %GC.
Em relação à massa livre de gordura e ao índice de massa livre de gordura, as comparações de DXA x BIA apresentaram vieses positivos (1,7kg para MLG e 0,6kg/m2 para IMLG), indicando que a BIA apresenta valores menores em relação à DXA. Quanto aos limites de concordância, variaram de 8,3 a -5,0kg para MLG e de 2,9 a -1,8 kg/m2 para IMLG. Na comparação de DXA x ANT, os vieses apresentaram valores baixos (0,05kg para MLG e -0,4 kg/m2 para IMLG) e os limites de concordância variaram de 8,8 a -8,7kg para MLG e de 1,6 a -2,5 kg/m2 para IMLG.
Grupo DPOC - A comparação de DXA x BIA revelou vieses negativos (-1,6kg para MG e -3,0% para %GC), que indicam que as estimativas da gordura corporal foram maiores pela BIA em relação à DXA. Quanto aos limites de concordância, variaram de 3,8 a -7,1kg para MG e de 6,2 a -12,3% para %GC. Na comparação de DXA x ANT, semelhante ao que foi observado no grupo de indivíduos sadios, os vieses apresentam valores baixos (-0,1kg para MG e 0,4% para %GC) e os limites de concordância variaram de 5,8 a -5,6kg para MG e de 9,7 a -8,9% para %GC.
As comparações entre as variáveis massa livre de gordura e índice de massa livre de gordura revelaram, na comparação de DXA x BIA, vieses positivos (1,5kg para MLG e 0,6kg/m2 para IMLG) e indicam que a BIA apresenta valores menores em relação à DXA. Quanto aos limites de concordância, variaram de 7,4 a -4,3kg para MLG e de 2,8 a -1,7 kg/m2 para IMLG. Na comparação de DXA x ANT, os vieses apresentaram valores baixos (-0,1kg para MLG e 0,01 kg/m2 para IMLG) e os limites de concordância variaram de 5,6 a -5,8 kg para MLG e de 2,1 a -2,1 kg/m2 para IMLG.
DISCUSSÃO
Neste trabalho, utilizou-se a absortiometria para comparação do grupo de doentes com o grupo sadio e para a análise da comparação das técnicas e de sua concordância. Isto deve-se aos fatos de que, além de ter sido usada para validação de técnicas como a antropometria e a impedância bioelétrica (21-23), a absortiometria tem fornecido resultados concordantes, quanto à gordura e à massa livre de gordura corporal, com técnicas de referência consideradas como padrão-ouro, na área experimental e em indivíduos adultos sadios de ambos os sexos e em doentes com paralisia cerebral e DPOC (24-27). Nessa mesma linha, investigações recentes mostraram que as estimativas de gordura e de massa livre de gordura do corpo, pela absortiometria, são quase idênticas a aquelas obtidas por modelos complexos de análise compartimental (28) e pela ressonância magnética (29).
Quanto à impedância bioelétrica, os dados fornecidos por esta técnica, não constituem medidas diretas de qualquer estrutura biológica de interesse, como, por exemplo, gordura ou massa muscular. Nesta técnica, as estimativas são obtidas a partir de equações empíricas que fornecem valores para a água total do organismo, e, então, o teor de massa magra e o teor de gordura, num modelo de dois compartimentos. Assim, no que concerne à composição do corpo, avaliada pela impedância, inúmeras equações foram desenvolvidas, considerando sexo, idade, estatura e, também, doenças (21,23). Desta maneira, a aplicação de equações diferentes pode ensejar resultados diferentes quanto à massa de gordura e à massa livre de gordura do corpo. Pichard et al. (21), por exemplo, mostraram que a aplicação de diferentes fórmulas de impedância fornece, para a massa de gordura, valores menores (até 10,6 ± 10,2 kg) e valores maiores (até 19,8 ± 8,8 kg), em relação ao valor de 17,9 kg, estimado em mulheres, pela absortiometria. No presente trabalho, o valor do teor de gordura registrado foi baseado na equação incorporada no próprio aparelho que foi utilizado para a medida dos compartimentos corporais.
Composição do corpo no grupo sadio e no grupo com DPOC
Os resultados relativos à composição do corpo, no grupo sadio, são semelhantes a dados publicados na literatura. De fato, quanto à porcentagem de gordura, Gallagher et al. (30) citam valores de 25,1 a 30,1% para homens sadios de 60 a 79 anos, com IMC variando de 25 a 30 kg/m2 e, quanto à massa livre de gordura, os resultados registrados variam de 49,5 a 58,0 kg, também para homens de mais de 60 anos (9,24).
Nos pacientes com DPOC, valores publicados de gordura corporal são variáveis (13,31), mas podem ser baixos (10). Quanto à estimativa da massa livre de gordura, há registro de valores baixos, de 39,3kg (32), e valores mais altos, de 50,2 ± 8,7kg (24). No presente trabalho, os valores de MLG, nos pacientes com DPOC, foram 46,1 ± 5,7kg (Tabela 1), situando-se, portanto, dentro de limites observados em publicações da literatura. Quanto ao IMLG, utilizando o ponto de corte de 17,4 kg/m2, como publicado por Pichard et al. (33), o valor médio dos indivíduos sadios é normal; o valor médio dos pacientes com DPOC é menor que 17,4, correspondendo, pois, a índice de massa livre de gordura baixo (IMLG < 17,4 kg/m2 em 17 dos 24 pacientes).
Comparação das técnicas de análise da composição corporal e estudo da concordância entre as técnicas
A análise de variância não revelou, nos indivíduos sadios, diferenças significantes entre os resultados relacionados às três técnicas utilizadas (Tabela 2). No grupo de pacientes com DPOC, porém, há diferença entre os resultados da impedância bioelétrica, quando comparados à absortiometria, a impedância superestimando o compartimento de gordura e subestimando a massa corporal magra (Tabela 3). Os valores da gordura corporal, obtidos por impedância, nos pacientes com DPOC, podem ter sofrido influência da menor quantidade de gordura corporal (menores valores de IMC e %GC, conforme Tabela 1) e por isso apresentam-se superestimados na comparação com DXA. Nesta linha, em trabalho recente, Sun et al. (34) mostraram que a bioimpedância fornece valores altos de gordura corporal em indivíduos sadios classificados pela DXA como magros e valores mais baixos nos indivíduos classificados como obesos.
Quanto ao estudo da concordância, os resultados relacionados com a massa e a porcentagem de gordura do corpo, em indivíduos sadios e em DPOC, mostraram valores pequenos de viés nas comparações DXA x BIA, porém com limites de concordância relativamente largos, indicando falta de concordância entre os métodos. Pela impedância bioelétrica, os vieses foram negativos, indicando superestimação da gordura e, conseqüentemente, subestimação da massa livre de gordura (Figuras 1 e 2), achados coincidentes com os resultados da comparação dos métodos pela análise da variância. Em pacientes com DPOC, Steiner et al. (22) também observaram subestimação da massa livre de gordura e superestimação da gordura corpórea pela impedância, em relação à absortiometria. No tocante à massa livre de gordura e ao índice de massa livre de gordura, embora os limites de concordância não tenham sido largos, os vieses, em indivíduos sadios e em DPOC, também indicam menor concordância entre os métodos.
Com relação à antropometria, nos indivíduos sadios e nos pacientes com DPOC, não encontramos diferenças significantes entre os valores de MG, %GC, MLG e IMLG estimados por essa técnica e pela absortiometria (Tabelas 2 e 3 ). Note-se que os valores obtidos pela antropometria quase se justapõem aos da absortiometria, tanto em indivíduos sadios, quanto em pacientes com DPOC. Embora seja método considerado como de sensibilidade menor para detectar, por exemplo, depleção nutricional (22), a medida de pregas cutâneas, realizada por pessoa experiente, com técnica padronizada, fornece estimativas consideradas confiáveis e com acurácia da porcentagem de gordura corporal (35).
No estudo de concordância entre os dados antropométricos e dados obtidos pela absortiometria, verificaram-se, para MG, %GC, MLG e IMLG, valores médios quase superponíveis, com vieses de valor baixo; contudo, também aqui, os limites de concordância são amplos, o que compromete o uso intercambiável desses métodos, para análise da composição do corpo de indivíduos (Figuras 1 e 2).
Levando em consideração as diferenças assinaladas entre DXA e BIA e DXA e ANT, poder-se-ia utilizar um fator de correção para ajuste dos valores relacionados aos compartimentos do corpo. O fator de correção poderia corresponder ao valor do viés, tal como calculado pelo método de Bland & Altman (20). Entretanto, considerando que, no presente trabalho, os limites de concordância são relativamente largos, os resultados perderiam precisão, tornando-se pouco confiáveis.
As considerações acima expostas são válidas nas condições que se enquadram dentro do delineamento do trabalho desenvolvido, isto é, para indivíduos do sexo masculino, de 50 a cerca de 80 anos de idade, sadios e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica e cujos espaços compartimentais foram estimados pelos equipamentos descritos, nas condições registradas.
CONCLUSÕES
Em conclusão, a análise do grupo de indivíduos sadios mostrou não haver diferença entre os resultados da antropometria ou da impedância quando comparados com os da absortiometria; em contraste, no grupo com DPOC, houve diferença entre os resultados da impedância em relação aos da absortiometria. Adicionalmente, em análises individuais, em ambos os grupos estudados, não houve concordância entre as estimativas da composição corporal obtidas pela antropometria ou pela impedância em relação à absortiometria.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Assistente Doutor José Morceli, pelo acesso à Unidade TC Tomocentro de Botucatu, e ao Professor Assistente Altamir Santos Teixeira, pela realização e interpretação da maioria dos exames de absortiometria.
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