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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.31 n.12 Caracas dic. 2006

 

DE MULHERES, CIÊNCIA E ALGO MAIS

Faz um ano celebrou-se em Bangalore, India, a Terceira Assembléia Geral da Organização de Mulheres Científicas do Terceiro Mundo (TWOWS) e a Conferência Internacional O Impacto das Mulheres em Ciência e Tecnologia no Terceiro Milênio. A TWOWS é uma ONG internacional sem fins lucrativos, cuja constituição foi adotada em Trieste, Itália, em 1989, e ratificada em 1993, no Cairo, Egito e em 1999 em Capetown, Sudáfrica.

O objetivo geral de TWOWS é estimular e reforçar a participação das mulheres em ciência e tecnologia no Terceiro Mundo, para que tenham um impacto decisivo no desenvolvimento de seus países e melhorar a qualidade de vida das maiorias. A organização promove a cooperação científica e tecnológica a nível regional e global, tendo sempre em conta as diferenças culturais e socioeconômicas de cada região.

Porque é necessária uma organização de mulheres científicas? Somente participando nas reuniões e convivendo com umas 400 científicas de distintos países pude perceber que nelas existe uma genuína preocupação pelas repercussões sociais e humanas de suas investigações. Por exemplo, Mayana Zatz do Brasil, ganhadora do prêmio TWAS 2003 em Ciências Médicas, titulou sua conferência plenária "Ser uma científica não é suficiente" e junto com surpreendentes resultados sobre a identificação de genes ligados à distrofia muscular progressiva e os mecanismos desta enfermidade, apresentou a luta que como científica, junto com parte da sociedade brasileira, empreendeu no seu país para que o poder legislativo aprovasse a investigação com embriões para obter células tronco com fins terapêuticos. Esta foi a tônica geral dos trabalhos apresentados, onde a investigação, que tem subido de nível de maneira surpreendente em seis anos, sempre está ligada a comunidade e repercute nela. Assim sendo, entre mulheres em TWOWS falamos de uma investigação de alta qualidade com conteúdo social e humano.

As áreas da Conferência foram ciência e tecnologia para todos; saúde: um desafio contínuo para as mulheres; desenvolvimento sustentável: água potável e energias renováveis; e as mulheres e as novas tecnologias.

Quanto ao primeiro tema se mencionou que em muitos países em vias de desenvolvimento o fator humano tem sido subvalorizado e seus governos decidiram que as bases do desenvolvimento foram; a mão de obra barata e a matéria prima, sem transformar ou com transformações mínimas, provenientes de seus recursos naturais. Alem disso, ao negar-lhes às mulheres aceso a educação, desperdiçam 50% de seus recursos humanos potenciais, luxo que a sociedade não pode dar-se. Discutiu-se o status das mulheres em muitas sociedades, a influência cultural e, como a investigação realizada por elas tem se estendido de áreas tradicionais, tais como horticultura e processamento de alimentos, a outras como meteorologia e tecnologia da comunicação.

Em relação ao tema Saúde: Um desafio contínuo para as mulheres, se fez ênfase nas enfermidades específicas das mulheres, como câncer cervical e de mama, osteoporose e problemas associados com gravidez e parto, em enfermidades inerentes às condições sócio culturais em nossos países, como a Aids, e naquelas devidas a inalação dos contaminantes provenientes da queima de madeira e esterco de animais para cozinhar. Outro tema principal foi o conhecimento tradicional milenário sobre plantas medicinais, seu uso e sua relevância para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos.

Por outra parte, o problema da água potável é crítico, já que nos países em vias de desenvolvimento mais de 50% das camas nos hospitais são ocupadas por pacientes com enfermidades ocasionadas por beber águas contaminadas com patógenos, mercúrio e arsênico. Além disso, as mulheres, principalmente nos meios rurais, devem caminhar grandes distancias para obter água para suas famílias. A necessidade de fontes de energia renovável foi discutida e vista como uma oportunidade para satisfazer necessidades energéticas e gerar empresas pequenas que permitam às mulheres obter recursos para o desenvolvimento de suas comunidades.

A nanotecnologia, a biotecnologia e as tecnologias de comunicação e informação oferecem aos países do sul oportunidades para enlaçar ciência y tecnologia. Foi discutido o papel da mulher nestas novas tecnologias e as oportunidades para que ditas tecnologias tenham um papel relevante em agricultura, saúde e na documentação do conhecimento tradicional; assim como seu uso no ensino a distância e para difundir a informação de modo que a ciência e a tecnologia estejam ao alcance de todos, precisamente um dos pontos cruciais pelos que luta a Associação Interciência.

Como diria Mario Benedetti, com sua esperança dura o sul também existe, aqui há mulheres que sabem aonde se segurar, aproveitando o sol e também os eclipses, separando o inútil e usando o que serve, e que se desvivem para entre todas alcançar o que era algo impossível, que todo mundo saiba que o sul também existe.

Por último, algo me impressionou porque como científicos buscamos o bem, mas nunca sabemos o uso que se dará às descobertas. Na Índia, mais de 60% dos nascidos são homens. Como conseguiram desnivelar a balança? Existem clínicas clandestinas para determinação de sexo, e os embriões e fetos femininos são eliminados porque as meninas não são desejadas. Assim, fomos afortunadas de nascer faz anos, quando não se sabia se seria menino ou menina, e de nascer no México. Ainda que, quem sabe, em algumas décadas os hindus vão a importar mulheres para reproduzir-se, ou estabelecerão as fábricas de meninos que descreve Aldoux Huxley.

Mayra de la Torre. 

Centro de Investigação em Alimentação eDesenvolvimento (CIAD), Hermosillo, Sonora, México