Interciencia
versión impresa ISSN 0378-1844
INCI v.32 n.3 Caracas mar. 2007
Publiquemos em nossas revistas, leiamos e citemo-las
Um dos males que incomodam nossa ciência, comum a todos os países "em desenvolvimento" é a escassez de revistas científicas de qualidade e visibilidade tais que nossos científicos as procurem para publicar nelas e o façam com orgulho e satisfação.
No entanto, são numerosos os exemplos de publicações periódicas de qualidade produzidas na América Latina, um fato que mostra que não é impossível fazê-lo. Devidos tanto ao número de investigadores como ao de suas publicações em revistas indexadas, existe plena cabida para a produção de um número muito maior de publicações na região, que sejam reconhecidas e apreciadas. Os esforços realizados pelos organismos nacionais de ciência e tecnologia em alguns países são merecedores de elogios, mas a atitude de muitos de nossos investigadores deixa muito a desejar.
O número total de publicações científicas periódicas produzidas na América ao sul do Rio Grande não é conhecido, mas sem duvida alcança várias dezenas de miles já que, em cada país, associações científicas de variada índole e praticamente todas as instituições acadêmicas publicam pelo menos uma e, em muitas ocasiões, varias revistas. No entanto, as revistas incluídas em índices internacionais como o Science Citation Index não passam de algumas dezenas. Um sistema regional como o é Scielo inclui cerca de 400 revistas, algumas delas de Espanha. Um catálogo mais amplo, como é Latindex, contêm uma lista de cerca de 20.000 títulos de revistas da América Latina, o Caribe, Espanha e Portugal, repartidos em partes aproximadamente iguais entre as ciências "duras" e as "sociais", que por sua vez incluem as das artes e humanidades.
Não são poucas as revistas da região que são reconhecidas e respeitadas por sua seriedade e pela qualidade de seus corpos editoriais e seus árbitros. Deixando de um lado a dificuldade crônica representada pela hegemonia da língua inglesa em ciência e tecnologia, em muitos casos de indubitável qualidade, as razões principais de uma baixa figuração internacional são a pobre difusão e regularidade. Ambos os fatores se contrapõem a esforços editoriais importantes e desmerecem os mecanismos de financiamento utilizados.
É fácil pedir aos investigadores que publiquem em nossas revistas, mas antes se faz imprescindível lograr níveis de qualidade, eficiência, prontidão e pontualidade que justifiquem seu uso como veículos para um verdadeiro intercâmbio atualizado de conhecimentos e difusão oportuna das descobertas e idéias, tanto na região como no mundo. Por parte dos investigadores é necessário que valorizem muito mais os esforços que se realizam e submetam seus trabalhos para publicação naquelas revistas de comprovada idoneidade. O desprezo por revistas locais e a preferência de publicar em, e citar de revistas do primeiro mundo, inclusive no caso de seus próprios trabalhos, deveria desaparecer progressivamente.
Por parte das revistas e os entes que as financiam se impõe realizar sendo esforços para lograr melhoras significativas. Tais melhoras não somente devem abarcar os óbvios aspectos qualitativos de seus conteúdos e em seus mecanismos e qualidade de arbitragem, senão também sua eficiente atenção aos autores e a possibilidade de distribuição oportuna. O meritório, mas com freqüência, pouco eficiente "amadorismo" dos editores de revistas científicas e sua dedicação parcial a estes labores devem ser substituídos por uma dedicação completa e de maior profissionalismo.
As iniciativas de formação de equipes de editores científicos, assim como aquelas de avaliação, qualificação e indexação; que têm lugar a nível institucional, nacional e regional, devem reforçar-se e ser orientadas a que, de uma vez por todas, desapareçam as queixas e surja um forte grupo de revistas científicas de qualidade que sejam admiradas por todos, lidas e citadas.
Miguel Laufer,
Diretor