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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.32 n.10 Caracas oct. 2007

 

A Cultura da Publicação Científica (III)

O idioma e a profissionalização dos corpos editoriais, aspectos tratados em anteriores editoriais (Interciência 32: 501 y 577) não esgotam os aspectos contrastantes da cultura da publicação científica em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Outro aspecto, que pouco ou nada tem a ver com o idioma, mas que afeta a uma porcentagem muito alta das revistas científicas produzidas na América Latina, se refere à falta de pontualidade em sua aparição.

Enquanto que nas culturas nórdicas a pontualidade é algo que se aproxima ao sagrado, seu significado entre nós é diferente. Ainda que seja certo que um bom número de revistas tem como política irredutível sua aparição pontual e que é difícil medir com certeza o atraso médio de nossas publicações, a maioria não cumpre com tal condição.

Temos detectado a existência de números correspondentes a um determinado ano que contêm trabalhos cuja data de recebimento apontada pela própria revista é de um e até de dois anos posterior à data declarada de publicação. Ainda que possam ser considerados como casos extremos, não representativos da situação predominante, isto acontece ¿Como explicá-lo?

Entre as razões principais desse defase estão: o óbvio atraso na aparição da revista, o descuido por parte dos editores, que não põem atenção em cuidar desse detalhe, e a falta de material disponível para publicar em seu devido momento.

Tais razões poderiam coincidir em determinar o defase, mas obedecem a coisas diferentes. Se faltar material para ser publicado é óbvio que a periodicidade da revista é alta demais ou, em outras palavras, que sua demanda pelos investigadores que submetem manuscritos a ela é escassa. Em casos assim, os editores e os patrocinadores devem revisar a situação a fim de compaginar o ritmo de produção da revista com a demanda existente e conseguinte recebimento de trabalhos.

Mas, o atraso na publicação e incumprimento da requerida periodicidade vinculam-se freqüentemente a falhas na cadeia editorial e/ou a disponibilidade de recursos econômicos para completar dita cadeia. A falta de dedicação e profissionalização dos corpos editoriais efetivamente resulta na lentidão nos procedimentos de recebimento, revisão, arbitragem, tradução, edição e leitura. Em alguns casos se registram obstáculos atribuíveis a dificuldades na arbitragem ou a desinteresse por parte dos árbitros consultados, obstáculos estes que em última instância devem ser solucionados pela equipe editorial sob cuja responsabilidade se encontra a produção da revista.

O financiamento insuficiente e/ou tardio é uma causa freqüentemente invocada pela falta de pontualidade. São poucas as revistas que contam com ingressos próprios suficientes, e quase todas dependem de uma de duas fontes: os recursos das instituições que as auspiciam ou às quais pertencem, e os programas de subvenções dos organismos nacionais de ciência e tecnologia.

As revistas de sociedades profissionais, em particular aquelas de grupos de especialidades médicas, geralmente contam com o auspício de empresas produtoras de medicamentos ou serviços que interessam a uma audiência específica e estão dispostas a sufragar os custos envolvidos, que são considerados como gastos de publicidade.

Em nosso meio é comum que as instituições acadêmicas se ocupem da produção de revistas em todas ou quase todas as disciplinas que cultivam, resultando um altíssimo número de títulos que com freqüência são redundantes. Além disso, de ser pouca a eficiência, tais instituições acaba tendo orçamentos insuficientes ou de execução retardada. Por sua vez, as revistas de associações de científicos ou de poetas, entre as que se encontram aquelas para o avanço da ciência, com muito contadas excepciones, sofrem de insuficiência crônica de recursos.

Em alguns países têm sido implementados programas de promoção e apoio às publicações científicas, cuja eficiência depende da disponibilidade de fundos suficientes e da capacidade de disponibilização oportuna. São estes programas, assim como a racionalização da produção de revistas, aspectos que trataremos mais adiante, os dois fatores mais poderosos para corrigir o comentado atraso na aparição de nossas revistas científicas.

Miguel Laufer.

 Diretor Interciência