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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.33 n.8 Caracas ago. 2008

 

Os biocombustíveis na crise energética e alimentar.

O mundo esta como um automóvel que quer correr, mas restando-lhe pouca gasolina no tanque. As reservas mundiais de petróleo "fácil", aquele que flui dos atuais poços perfurados em terra ou em águas pouco profundas, têm atingido o topo e o que sobra é cada vez mais custoso. O petróleo existente em zonas de difícil acesso e o gás natural "difícil" (gás preso e hidratos de metano) são de exploração muito custosa, ainda mais ao evitar causar danos ambientais.

Os altos preços do petróleo devem-se em parte ao grande investimento necessário para explorar novas e difíceis jazidas e para estabelecer novos processos de produção de gasolina a partir de gás natural, baseados na quase esquecida tecnologia Fischer-Tropsch, usada pelos alemães na segunda guerra mundial para sintetizá-la a partir de carvão mineral. Outra causa é a estreita relação entre a indústria petroleira e outra muito poderosa, a automotiva, em que o rápido incremento da oferta, por melhoras na produção em série e reciclagem de sucata, aumenta a demanda de combustíveis.

O tema do Protocolo de Kyoto sobre o aquecimento global que estabelece o mercado dos créditos de carbono, não está muito claro. Segundo esse Protocolo, emitir CO2 à atmosfera é um passivo financeiro ou dívida; capturá-lo ou não emiti-lo é um ativo. Como na fotossíntese se captura CO2, tem sentido produzir biocombustíveis cujo aporte neto de CO2 na atmosfera é supostamente zero, chegando assim a reduzir o consumo de petróleo, que aumenta o passivo. Além disso, os créditos servem para desenvolver tecnologias ainda pouco eficientes ou complicadas para países em vias de desenvolvimento (células fotovoltaicas, seqüestro subterrâneo de CO2, etc.).

Poderia interpretar-se que o objetivo do Protocolo é qualificar de excremento do diabo o que era considerado ouro negro. O contágio da mídia é tal que, para muitos, o CO2 emitido pela combustão de hidrocarbonetos fósseis danifica o clima, enquanto que para outros é um fertilizante atmosférico bom para os vegetais, sendo o sol (Deus dos Mayas, Egípcios e outras Antigas Civilizações) o maior responsável pelas mudanças climáticas. O ruído sobre o aquecimento global pode que seja propaganda com disfarce de ciência para segurar as reservas de petróleo fácil que, do contrário poderiam se esgotar neste século.

Si se define o acesso à eletricidade (1/3 da população mundial não acede a ela!) como o passo inicial para o desenvolvimento dos povos do chamado terceiro mundo, os altos preços do petróleo sem dúvida fazem de esse passo um luxo. A um país pobre lhe será difícil financiar a instalação de uma usina elétrica em um mercado dominado por créditos de carbono, a menos que contrate o custoso "know how" para seqüestrar o CO2 emitido.

Tudo isto também leva ao aumento nos preços dos alimentos. Tratores e caminhões requerem derivados do petróleo para produzir alimentos, pelo que o maior preço do primeiro causa aumento nos segundos. Além disso, o emprego de terras férteis para produzir matéria prima para biocombustíveis (cana de açúcar, milho, soja, palma), ainda que possa melhorar a economia de um país não petroleiro como Brasil, pode também entorpecer o abastecimento de alimentos.

Os biocombustíveis podem ser incluídos dentro do conceito geral de bioenergia, energia "renovável" produzida a partir de biomassa. Na Austrália, árvores de eucalipto são cortadas para produzir eletricidade e obter subprodutos como óleo para biodiesel. O carvão vegetal produzido por pirólise da madeira, o "agrichar" o "biochar", é considerado bom fertilizante e é parte do debatido tema da "terra-preta", utilizada por índios amazônicos mais de mil anos atrás. A "plantação do petróleo" deixaria de ser uma metáfora se o abundante coque obtido do processamento de petróleos pesados pudesse ser usado como "agrichar".

A fome não é atribuível à escassez de terras férteis, senão a problemas econômicos derivados de fatores políticos. Com uma agricultura eficiente, bastaria com 10% das terras férteis do mundo para abastecer de alimentos a toda a humanidade, e empregando 30% se poderia substituir toda a produção mundial de petróleo (30Gbbl/ano) por etanol. Mas em países do terceiro mundo, a agricultura é até cinco vezes menos eficiente que em países desenvolvidos.

Os biocombustíveis poderão melhorar ou piorar a atual crise alimentar mundial, segundo se empregue ou não uma agricultura muito eficiente. Provavelmente imperará a vontade de buscar petróleo difícil em vez de buscar bicombustíveis fáceis. No máximo, os bicombustíveis seriam um veículo de transição entre a era dos combustíveis fósseis e a das novas alternativas energéticas.

Jorge Laine

Instituto Venezuelano de Investigações Científicas. Venezuela.