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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.34 n.3 Caracas mar. 2009

 

Quando os cidadãos mostram o espelho à comunidade científica

A comunidade científica em geral da por certa a noção de que os cidadãos consideram a ciencia e a tecnología como essenciais para o desenvolvimento socioeconômico e o bem-estar individual. Tal percepção parece óbvia aos científicos. O quanto é certa?

Como preparação para a Grande rencontre de Science et Société que teve lugar recentemente em Montreal, a Association francophone pour le savoir (ACFAS) e o Centre interuniversitaire de recherche sur la science et la technologie (CIRST) de Québec organizaram uma enquete sobre às expectativas dos cidadãos para a comunidade de investigadores. Ao mesmo tempo, outra enquete foi feita por uma empresa especializada (CROP) junto a TéléQuébec, uma rede de televisão, e La Presse, um diário de grande circulação. A enquete telefônica foi realizada entre 18 e 29 de setembro de 2008. Analisou-se uma amostra final de 1002 respostas (29% dos consultados), com resultados confiáveis de 19/20 e 3% de margem de erro (ver www.acfas.ca para detalhes). As respostas ao questionário, elaborado por expertos de Québec e da França, mostram que os cidadãos de Québec são mais favoráveis aos científicos que os franceses.

Os resultados e conclusões de ambas enquetes são relevantes para os leitores de Interciencia, pois oferecem caminhos para implementar planos de ação a qualquer associação para o avanço da ciencia, e para os científicos mesmos.

A enquete indica claramente que os científicos gozam de elevado grau (84%) de confiança, maior ainda (92%) para os professores (a maioria dos investigadores são docentes). As porcentagens para outras profissões fazem sorrir: 80% para os policiais, 74% os juízes, 59% os jornalistas e 20%... os políticos! Outro dado importante: não existe temor ao progresso científico; para 84% dos interrogados, o desenvolvimento científico aporta mais beneficios que danos ao ser humano. Constata-se certa valorização da atividade científica em anos recentes, já que essa proporção era de 68% em 2002, segundo uma enquete do Conselho da Ciência e a Tecnologia de Quebec. Essa apreciação dos científicos é confirmada pela opinião maioritária dos habitantes de Quebec (52%) que desejam que participem mais em debates públicos e que sejam mais visíveis na mídia (91%), pois estimam que a cobertura dada à ciência é insuficiente (56%).

A imagen de Torre de Cristal é caricaturesca para os cidadãos, pois estiman que os científicos se preocupam tanto por suas expectativas (77%) como pelos riscos e efeitos daninos de descobrimentos (64%). 53% dos entrevistados desejam que os científicos se envolvam mais em atividades de divulgação. De fato, 68% dos cidadãos admitem não estar suficientemente informados do progresso do conhecimento como para fazer boas perguntas aos científicos. Somente 8% acredita que envolver aos cidadaõs no desenvolvimento científico melhoraria a qualidade da investigação.

Os cidadãos menos escolarizados desconfiam mais dos investigadores e do progresso científico, e têm prioridades diferentes. Dão mais importância às repercussões inmediatas da investigação, enquanto que para os de maior escolaridade o avance do conhecimento e a gestão de problemas coletivos são prioritários. Estes últimos procuram a competência de expertos para definir orientações da investigação enquanto que os menos escolarizados confíam mais nos leigos.

Ainda que a maioria (81%) concorda em que a empresa privada financie a investigação universitária, o apoio empresarial é visto como mais positivo se é oferecido desinteresadamente (92%) do que servindo exclusivamente ao seu setor de atividade (63%) ou se serve somente para melhorar sua competitividade (58%).

ACFAS concluiu que os dados mostram a necessidade de implementar de forma sistemática a divulgação científica, a transferência de conhecimento e a difusão das investigações. Cremos que isto vale para todos os países das Américas. Como tais atividades não são reconhecidas pela academia, deve prover-se incentivos para incrementar a participação em debates públicos e a disseminação do conhecimento, como pedem os cidadãos. Esta recomendação deveria ser aceita e implementada por todas as sociedades afiliadas à Associação Interciência.

Neste contexto, interessa recordar a Declaração de Panamá suscrita pela Associação (Interciência 30: 392, 2005), onde se destaca que o analfabetismo científico é associado com pobreza e más condições higiênicas, sendo causa de desemprego. Sem accesso fácil à informação científico-tecnológica os empreendedores locais não podem inovar e criar emprego, fazendo chegar os benefícios da ciência aos trabalhadores e suas famílias. A governabilidade democrática requer da participação de cidadãos com bom accesso à informação, considerada como um novo direito humano. Para a tomada de decissões nossos governos, as organizações não-governamentais e a população requerem da informação científica.

Pierre Noreau / Presidente, ACFAS

Michel Bergeron / Presidente, Associação Interciencia