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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.27 n.1 Caracas ene. 2002

 

0378-1844/02/01/006-03

QUAL CIÊNCIA? QUAL FORMAÇÃO? QUAL DIFUSÃO?

Há perguntas fundamentais que não fazemos ou respondemos para evitar polêmicas. Porém, que melhor atitude que aquela de promover uma discussão saudável e aberta em busca de exposições que possam orientar uma ação construtiva?

Os lineamentos institucionais e as políticas públicas sobre a pesquisa, a educação e a difusão do conhecimento, incluindo o trabalho editorial, se desenvolvem e se adaptam de acordo às respostas que dermos às perguntas que com respeito a estes tópicos nos fazemos. A aceitação e o apoio que a sociedade brinda à ciência, assim como sua utilização e discussão pública serão também, em boa medida, conseqüência dessas respostas.

Uma atitude extrema e radical, desejável para muitos que se consideram parte de uma elite intelectual, é a de assumir que somente tem cabimento e sentido a melhor pesquisa de fronteira, aquela que abre novos horizontes ao conhecimento em áreas de fundamental interesse com objetivos ao futuro, que o único esquema válido para a formação de científicos é aquele que contempla as técnicas e conhecimentos mais novedosos e avançados, e que a única maneira de difundir o conhecimento da ciência é através de publicações de altíssima qualidade e reconhecidas no mundo inteiro.

Cabe perguntar-se se não é esta uma posição restringida e limitada, apenas alcançada parcialmente nas melhores e muito contadas instituições e publicações do planeta.

Ao outro extremo se situa uma posição de corte populista que está a favor de uma atividade científica orientada exclusivamente a resolver problemas imediatos da sociedade ou a estudar assuntos de interesse local, por pequenos que sejam, sem maior consideração pelo estado da arte em uma determinada especialidade. Os objetivos formativos se orientam, conseqüentemente, à imediatez, a utilidade e a política editorial se centraliza na acessibilidade a quem têm de aplicar o conhecimento e na difusão massiva deste à população em geral.

Em um ambiente caracterizado pela complexidade, a globalidade e a desmitificação, tem cabida um amplo espectro de atividades científicas, formativas e divulgativas, onde não deveria fechar-se a priori a natureza e alcance da pesquisa. Não obstante, as políticas específicas institucionais e as de entidades de fomento científico devem ser claramente delineadas em beneficio não somente da comunidade científica, se não da sociedade toda. Só dessa maneira pode amoldar-se corretamente ao sistema educativo, ao sistema científico e este ao sector industrial e público em general.

Lições importantes a aprender das sociedades onde a ciência e a tecnologia alcançam um maior desenvolvimento são a amplíssima gama de diferentes atividades que têm cabimento nas diversas instituições públicas e privadas, a flexibilidade curricular dos sistemas educativos e a coexistência de excelentes revistas científicas e um permanente trabalho de difusão ao público orientado a permitir tomar decisões educadas em matérias de interesse geral que correspondam à ciência e a tecnologia. Finalmente, adquire grande importância a participação do setor produtivo, em particular a indústria, no desenvolvimento científico e a aplicação dos avanços tecnológicos.

Tanto as pesquisas de caráter básico ou fundamental como as mais aplicadas e de natureza local devem ter seus lugares para desenvolver e florescer. Tanto as publicações de natureza ortodoxa orientadas à publicação de trabalhos de pesquisa localizados no chamado "mainstream" da ciência universal, como as que buscam difundir o conhecimento e ilustrar à população geral no que se há chamado "apropriação social" da ciência, têm um importante papel que jogar.

Os objetivos e as metas traçadas pelas entidades responsáveis das políticas públicas, pelas instituições de educação superior e de pesquisa, e pelos órgãos de divulgação, só poderão alcançar-se na medida em que sejam bem entendidos e compartilhados tanto pelos atores como pelo público em geral, que é, em uma sociedade democrática, quem há de determinar o apoio que têm de ter a ciência e a tecnologia, suas políticas, e aquelas decisões que dependam da comunidade.

Qualquer que sejam os lineamentos, sua implementação deve ter lugar com a maior rigorosidade e compromisso, unicas formas de conseguir a qualidade desejada, que há de ser sempre a mais alta possível.

Miguel Laufer

Director

 

WHICH SCIENCE? WHICH TRAINING? WHICH DIFfUSION?

There are fundamental questions that we often avoid asking or answering in order to keep clear from polemics. However, is there a better attitude than that of promoting a healthy and open discussion in search of proposals that could guide a constructive action?

Institutional guidelines and public policies about research, education and knowledge dissemination, including the editorial work, are developed and shaped according to the answers that we give to the questions that we formulate about these topics. The acceptance and support that society offers to science, as well as its utilization and public discussion will also be, to a large extent, consequences of these answers.

An extreme and radical attitude, pleasing many who consider themselves part of an intellectual elite, is that of assuming only frontier science, which opens new horizons to knowledge in subjects of fundamental interest in view of the future, has a place and makes sense, that the only valid scheme for the training of scientists is that which considers the most novel and advanced techniques and knowledge, and that the only way to disseminate scientific knowledge is through high quality publications, recognized as such in the whole world.

It can be questioned whether or not this is a restricted and limited position, only partly reachable by the best, and very few, institutions and publications of our planet.

At the other extreme is a populist position that claims for a scientific activity oriented exclusively to solve society’s immediate problems or matters of local interest, however small they might be, without much consideration for the state of the art in a given specialty. Training objectives are consequently oriented to immediacy and usefulness, and editorial policies center on the accessibility of those who are to apply the knowledge obtained and on its massive dissemination to the population at large.

In an environment characterized by complexity, globalization and demystification, there is room for a wide spectrum of scientific, educational and publishing activities, where the nature and reaches of research should not be restricted a priori. Nevertheless, specific institutional policies and those of entities devoted to science promotion ought to be clearly delineated for the benefit not only of the scientific community, but of the whole of society. Only in such manner the educational system can be correctly coupled to the scientific one, and the latter to industry and the public in general.

Important lessons to be learnt from societies where science and technology reach a higher development are the very large gamut of activities taking place at diverse public and private institutions, the highly flexible curricula in schools, and the coexistence of excellent scientific journals with a permanent public dissemination work oriented to allow educated decision making in matters of general interest concerning science and technology. Finally, the productive sector participation is highly relevant, particularly that of industry, in the scientific development and the application of technological advances.

Both research of basic or fundamental character and that applied or of local nature ought to have a niche where to develop and flourish. Both journals of an orthodox nature, devoted to the publication of research papers considered to be in the mainstream of universal science, and publications that aim to disseminate knowledge and illustrate the public, have an important role to play.

The objectives and goals established by entities responsible for public policies, by research and higher education institutions, and by dissemination vehicles, will only be reached inasmuch as they are understood and shared by the actors as well as the general public who, in a democratic society, is to determine the support that science and technology are to receive, their policies, and all decisions that are to be taken by the community.

Whatever the guidelines, their implementation must take place with the highest rigorousness and commitment, the only way to achieve the desired quality, which is to be the highest possible one.

Miguel Laufer

Editor

QUAL CIÊNCIA? QUAL FORMAÇÃO? QUAL DIFUSÃO?

Há perguntas fundamentais que não fazemos ou respondemos para evitar polêmicas. Porém, que melhor atitude que aquela de promover uma discussão saudável e aberta em busca de exposições que possam orientar uma ação construtiva?

Os lineamentos institucionais e as políticas públicas sobre a pesquisa, a educação e a difusão do conhecimento, incluindo o trabalho editorial, se desenvolvem e se adaptam de acordo às respostas que dermos às perguntas que com respeito a estes tópicos nos fazemos. A aceitação e o apoio que a sociedade brinda à ciência, assim como sua utilização e discussão pública serão também, em boa medida, conseqüência dessas respostas.

Uma atitude extrema e radical, desejável para muitos que se consideram parte de uma elite intelectual, é a de assumir que somente tem cabimento e sentido a melhor pesquisa de fronteira, aquela que abre novos horizontes ao conhecimento em áreas de fundamental interesse com objetivos ao futuro, que o único esquema válido para a formação de científicos é aquele que contempla as técnicas e conhecimentos mais novedosos e avançados, e que a única maneira de difundir o conhecimento da ciência é através de publicações de altíssima qualidade e reconhecidas no mundo inteiro.

Cabe perguntar-se se não é esta uma posição restringida e limitada, apenas alcançada parcialmente nas melhores e muito contadas instituições e publicações do planeta.

Ao outro extremo se situa uma posição de corte populista que está a favor de uma atividade científica orientada exclusivamente a resolver problemas imediatos da sociedade ou a estudar assuntos de interesse local, por pequenos que sejam, sem maior consideração pelo estado da arte em uma determinada especialidade. Os objetivos formativos se orientam, conseqüentemente, à imediatez, a utilidade e a política editorial se centraliza na acessibilidade a quem têm de aplicar o conhecimento e na difusão massiva deste à população em geral.

Em um ambiente caracterizado pela complexidade, a globalidade e a desmitificação, tem cabida um amplo espectro de atividades científicas, formativas e divulgativas, onde não deveria fechar-se a priori a natureza e alcance da pesquisa. Não obstante, as políticas específicas institucionais e as de entidades de fomento científico devem ser claramente delineadas em beneficio não somente da comunidade científica, se não da sociedade toda. Só dessa maneira pode amoldar-se corretamente ao sistema educativo, ao sistema científico e este ao sector industrial e público em general.

Lições importantes a aprender das sociedades onde a ciência e a tecnologia alcançam um maior desenvolvimento são a amplíssima gama de diferentes atividades que têm cabimento nas diversas instituições públicas e privadas, a flexibilidade curricular dos sistemas educativos e a coexistência de excelentes revistas científicas e um permanente trabalho de difusão ao público orientado a permitir tomar decisões educadas em matérias de interesse geral que correspondam à ciência e a tecnologia. Finalmente, adquire grande importância a participação do setor produtivo, em particular a indústria, no desenvolvimento científico e a aplicação dos avanços tecnológicos.

Tanto as pesquisas de caráter básico ou fundamental como as mais aplicadas e de natureza local devem ter seus lugares para desenvolver e florescer. Tanto as publicações de natureza ortodoxa orientadas à publicação de trabalhos de pesquisa localizados no chamado "mainstream" da ciência universal, como as que buscam difundir o conhecimento e ilustrar à população geral no que se há chamado "apropriação social" da ciência, têm um importante papel que jogar.

Os objetivos e as metas traçadas pelas entidades responsáveis das políticas públicas, pelas instituições de educação superior e de pesquisa, e pelos órgãos de divulgação, só poderão alcançar-se na medida em que sejam bem entendidos e compartilhados tanto pelos atores como pelo público em geral, que é, em uma sociedade democrática, quem há de determinar o apoio que têm de ter a ciência e a tecnologia, suas políticas, e aquelas decisões que dependam da comunidade.

Qualquer que sejam os lineamentos, sua implementação deve ter lugar com a maior rigorosidade e compromisso, unicas formas de conseguir a qualidade desejada, que há de ser sempre a mais alta possível.

Miguel Laufer

Diretor