SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.27 número3Efecto tóxico del cadmio sobre microalgas aisladas del nororiente de venezuela índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Links relacionados

Compartir


Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.27 n.3 Caracas mar. 2002

 

0378-1844/02/03/101-03

A LIÇÃO DOS GRANDES EXPEDICIONARIOS NA AMAZÔNIA

Uma das mais eloqüentes e edificantes contribuições para a história das ciências amazônicas foi gerada pelas grandes expedições, a maioria feita por estrangeiros. Neste contexto, a expedição Langsdorff, realizada no interior do Brasil, entre 1826 e 1828 é um capítulo especial, uma página de rara beleza. Georg Heinrich von Langsdorff, médico e membro da Academia de Ciências de São Petersburgo foi nomeado em 1813 cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro. Sua aventura em território amazônico foi marcada pela grande quantidade e excelente qualidade do material biológico e etnográfico coletado. Mais marcante, talvez, foram as dificuldades enfrentadas com doenças e loucura que o acometeram a partir da descida pelo rio Juruena. Outro aspecto relevante foi o excelente trabalho de registro feito pelos pintores franceses Adrien Taunay, morto afogado no rio Guaporé, e Hercule Florence, que ao final da expedição, fixou residência no Brasil.

A expedição Langsdorff foi feita em toscas canoas de madeira através do rio Tietê, no estado de São Paulo, passando pelo Pantanal mato-grossense, baixo Amazonas, até Belém do Pará, num percurso total de aproximadamente seis mil quilômetros. Sob todos os aspectos, a expedição foi extraordinária e se constitui num autêntico legado de persistência e destemor.

Vários outros expedicionários famosos também se embrenharam pela Amazônia brasileira, com idêntico senso de determinação e coragem. Dentre eles merecem destaque o matemático francês Charles Marie de la Condamine (1743), o luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), o alemão, barão von Humboldt (1800), os ingleses Walter Bates, Alfred Russell Wallace e Richard Spruce (em torno de 1850), o suiço e professor de Cambridge Jean Louis Rodolphe Agassiz, o escritor americano James Orton (cerca de 1865), e o geógrafo francês Henri Anatole Coudreau, morto nas cachoeiras do rio Trombetas, em 1899 e o coronel inglês Percy Fawcett, desaparecido misteriosamente em 1925 nas matas das cabeceiras do rio Xingu.

Analisando a trajetória e as façanhas destes expedicionários, uma pergunta irrompe quase como obrigatória: o que levou estes homens, a maioria oriundos de outros continentes, alguns aristocráticos, a se aventurar na erma Amazônia? Teria sido o fascínio pela lenda das índias guerreiras, o Eldorado e tantas outras riquezas citadas nos relatos fantasiosos de séculos anteriores por Vicente Pinzon, Francisco Orellana, Gaspar de Carvajal, Pedro Teixeira e Cristóbal de Acuña? A busca da fama? Ou teria sido isso uma decorrência natural de uma missão a cumprir, um profundo apreço pelas descobertas e pela ciência? Ou tão somente, o prazer da aventura em terra estrangeira, ou a fuga da realidade desagradável em suas regiões de origem?

Embora estas perguntas sejam pertinentes, não há respostas convincentes. Levanto estas questões apenas para lembrar de dois princípios gerais que podem estar na origem ou até mesmo subsidiar o melhor entendimento desse fenômeno: Primeiro, o homem é um ser extraordinariamente curioso e inteligente e portanto os fatos e coisas novas são sempre instigantes. A Amazônia, por seu exotismo, diversidade e riqueza, é lugar privilegiado para descobertas, estudos e aventuras. Ela sempre atraiu e continua atraindo a curiosidade de muita gente e evidentemente, os expedicionários não foram exceção. Segundo, enquanto no passado os expedicionários enfrentavam tremendos obstáculos para conhecer a Amazônia, hoje isso é muito mais fácil pelos recursos tecnológicos à disposição. Apesar disso, muitos de nossos patrícios não foram despertados para o fascínio do mundo amazônico, permanecendo alheios a ele ou não lhe dando a devida importância. Muitos deles vivem na região ou próximo a ela, mas preferem visitar os States ou conhecê-la através de revistas, relatos de terceiros ou televisão.

A Amazônia é o maior celeiro de vida, a última grande fronteira da natureza virgem e um do mais maravilhosos cenários do planeta em que vivemos. Floresta, água e céu se misturam num cenário multicor, paradisíaco e mágico. É preciso conhecer para amá-la e amar para conhecê-la. Essa talvez tenha sido a razão principal ou mesmo o grande ideal daqueles intrépidos expedicionários. Que ela nos sirva de exemplo e lição.

Geraldo Mendes Dos Santos

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Brasil

 

THE LESSON FROM THE GREAT EXPLORERS OF THE AMAZON

One of the most eloquent and constructive contributions to the history of Amazonic sciences was that of the great expeditions, most of them carried out by foreigners. In this context the Langsdorff expedition to the Brazilian inlands, between 1826 and 1828, represents a special chapter, a page of rare beauty. Georg Heinrich von Langsdorff, a physician and member of the Academy of Sciences of Saint Petersburg, was designated in 1813 as Consul General of Russia in Rio de Janeiro. His adventure in the Amazon territory was marked by the large amount and excellent quality of the biological and ethnographic material collected. More conspicuous, perhaps, were the difficulties faced with disease and madness that assailed him after the descent along the Juruena River. Another relevant aspect was the excellent pictorial registry carried out by the French painters Adrien Taunay, who drowned in the Guaporé River, and Hercule Florence, who established residence in Brazil after the expedition.

The Langsdorff expedition took place in primitive wooden canoes through the Tiete River, in the State of São Paulo, traversing the Pantanal in the Matto Grosso, the lower Amazon River, down to Belem do Pará, covering a total distance of approximately six thousand kilometers. The expedition was extraordinary in all accounts and represents an authentic legacy of persistence and braveness.

Several other famous explorers also penetrated the Brazilian Amazon region with identical sense of determination and courage. Among them deserve mention the French mathematician Charles Marie de la Condamine (1743), the Portuguese-Brazilian Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), the German Baron von Humboldt (1800), the Englishmen Walter Bates, Alfred Russell Wallace and Richard Spruce (ca. 1850), the Swiss and Cambridge professor Jean Louis Rodolphe Agassiz, the American writer James Orton (ca. 1865), the French geographer Henri Anatole Coudreau, who died at the Trombetas River Falls in 1899, and the British colonel Percy Fawcett, who disappeared mysteriously in 1925, in the forest at the Xingu River headwaters.

Analyzing the activities and feats of these explorers, an almost obligatory question props up: What led these men, most of them natives from other continents, some of them aristocrats, to adventure into the desolated Amazon? Could it be their fascination about legends of beautiful Amazons, or El Dorado and so many other riches quoted in the fantastic stories of previous centuries by Vicente Pinzon, Francisco Orellana, Gaspar de Carvajal, Pedro Texeira and Cristobal de Acuna? The search for fame? Or would this be a natural consequence of a mission to fulfill, a deep esteem for discovery and science? Or just the pleasure of adventure or simple escapades from an unpleasant reality in their regions of origin?

Although these questions are pertinent, there are no convincing answers. I bring them up only to remind two general principles that might be at the origin, or even allow a better understanding if this phenomenon. First, man is an extremely curious and intelligent being, and novelty always fascinates him. The Amazon region, due to its exotism, diversity and richness, is a privileged area for discovery, study and adventure. It has attracted and continues to attract the curiosity of a lot of people and, evidently, the explorers were no exception. Second, while in the past foreigners faced enormous obstacles in order to know the Amazon region, this is much easier today, thanks to available technological resources. Despite this fact, many Brazilians have not awakened to the fascination of the Amazonic world, remaining foreign to it or not giving it the due importance. Many of them live in the region or close to it, but they prefer to visit the States or to know it through magazines, stories told by others or the TV.

The Amazon region is the largest life reservoir, the last great frontier of virgin nature and one of the most wonderful sceneries of the planet we live in. Forest, water and skies are intermingled in a scenery of multicolored shades, paradisiacal and magical. It must be known to be loved, and loved to be known. This has been, perhaps, the main reason or even the biggest ideal of those intrepid explorers. May this be a lesson to all of us.

Geraldo Mendes dos Santos

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Brazil

 

LA LECCIÓN DE LOS GRANDES EXPEDICIONARIOS EN LA AMAZONÍA

Una de las contribuciones más elocuentes y edificantes para la historia de las ciencias amazónicas fue aquella de las grandes expediciones, la mayoría de ellas realizadas por extranjeros. En este contexto la expedición Langsdorff, realizada al interior de Brasil entre 1826 y 1828, es un capítulo especial, una página de rara belleza. Georg Heinrich von Langsdorff, médico y miembro de la Academia de Ciencias de San Petersburgo fue designado en 1813 Cónsul General de Rusia en Río de Janeiro. Su aventura en el territorio amazónico estuvo marcada por la gran cantidad y excelente calidad del material biológico y etnográfico recolectado. Más resaltantes, tal vez, fueron las dificultades enfrentadas, con enfermedades y locura, que le asaltaron a partir del descenso por el río Juruena. Otro aspecto relevante fue el excelente trabajo de registro realizado por los pintores franceses Adrien Taunay, quien murío ahogado en el rio Guaporé, y Hercule Florence, quien al final de la expedición fijó residencia en Brasil.

La expedición Langsdorff fue llevada a cabo en toscas canoas de madera a lo largo del río Tietê, en el Estado de São Paulo, pasando por el Pantanal del Matto Grosso y el bajo Amazonas, hasta Belem do Pará, con un recorrido total de aproximadamente seis mil kilómetros. Bajo todos los aspectos, la expedición fue extraordinaria y se constituyó en un auténtico legado de persistencia y valentía.

Varios otros exploradores famosos también se adentraron en la Amazonía brasileña, con idéntico sentido de determinación y coraje. Entre ellos merecen destacarse el matemático francés Charles Marie de la Condamine (1743), el luso-brasilero Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), el alemán Barón von Humboldt (1800), los ingleses Walter Bates, Alfred Russell Wallace y Richard Spruce (alrededor de 1850), el suizo y profesor de Cambridge Jean Louis Rodolphe Agassiz, el escritor americano James Orton (cerca de 1865), el geógrafo francés Henri Anatole Coudreau, muerto en las cataratas del río Trombetas en 1899, y el coronel inglés Percy Fawcett, desaparecido misteriosamente en 1925, en las selvas de las cabeceras del río Xingu.

Analizando la trayectoria y las hazañas de estos expedicionarios, irrumpe una pregunta casi obligatoria: Qué llevó a estos hombres, oriundos en su mayoría de otros continentes, algunos aristócratas, a aventurarse en la lejana Amazonía? Habría sido la fascinación por las leyendas de las indias guerreras o El Dorado, entre tantas otras riquezas citadas en los relatos fantasiosos de siglos anteriores por Vicente Pinzón, Francisco Orellana, Gaspar de Carvajal, Pedro Texeira y Cristóbal de Acuna? La búsqueda de fama? O habría sido eso una consecuencia natural de una misión por cumplir, un profundo aprecio por los descubrimientos y por la ciencia? O tan sólo el placer de la aventura en tierras extranjeras, o la fuga de una desagradable realidad en sus regiones de origen?

Aunque estas preguntas sean pertinentes, no hay respuestas convincentes. Traigo a colación estas cuestiones apenas para recordar dos principios generales que pueden estar en el origen, o incluso permitir una mejor comprensión de este fenómeno: Primero, el hombre es un ser extraordinariamente curioso e inteligente, y por lo tanto los hechos y cosas nuevas siempre le son incitantes. La Amazonía, por su exotismo, diversidad y riqueza, es lugar privilegiado para descubrimientos, estudios y aventuras. Siempre atrajo y continúa atrayendo la curiosidad de mucha gente, y evidentemente los expedicionarios no fueron excepción. Segundo, mientras en el pasado los expedicionarios enfrentaron tremendos obstáculos para conocer la Amazonía, hoy eso resulta mucho más fácil por los recursos tecnológicos disponibles. A pesar de ello, muchos de nuestros compatriotas no fueron despertados por la fascinación del mundo amazónico, permaneciendo ajenos a él o no dándole la debida importancia. Muchos de ellos viven en la región o cerca de ella, pero prefieren visitar los Estados Unidos o conocerla a través de revistas, relatos de terceros o la televisión.

La Amazonía es el mayor reservorio de vida, la última gran frontera de la naturaleza virgen y uno de los más maravillosos escenarios del planeta en que vivimos. Bosque, agua y cielo se mezclan en un escenario multicolor, paradisíaco y mágico. Es preciso conocerla para amarla y amar para conocerla. Esa tal vez haya sido la principal razón o incluso el mayor ideal de aquellos intrépidos expedicionarios. Que ello sirva de lección para todos nosotros.

Geraldo Mendes dos Santos

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Brasil