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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.31 n.6 Caracas jun. 2006

 

FALSAS DICOTOMIAS E DUALIDADES NA CIÊNCIA

A mente humana opera em função de elementos oponentes ou complementários, estabelecendo dualidades, convergências, comparações e dicotomias. Assim como podemos nos encontrar diante de enfoques atomistas e enfoques holísticos, e nos encontrarmos diante do bem e do mal, do desejável e do rejeitável, assim temos a ciência básica e a aplicada, ciência e tecnologia, ciência e técnica, tecnologia e inovação, investigação e desenvolvimento, academia e indústria, oferentes e demandantes, pushers e pullers.

Os esquemas lineares que postulavam causas e efeitos supostamente consecutivos, como o esquema em que a ciência acadêmica leva à investigação tecnológica e esta ao desenvolvimento industrial e conseqüente prosperidade, faz já quase meio século que são questionados. Os estudiosos têm falado de ciência grande ou pequena, paradigmática ou normal, de velhos e novos modos de produção de conhecimento, ou de ciência estratégica, co-produzida, postnormal ou de tripla hélice.

O certo é que existe o conhecimento, cuja geração e comunicação têm sido, é e será o papel primordial da academia, e existe a utilização desse conhecimento, coisa que as empresas e os governos fazem. Quem utiliza sabiamente o conhecimento se beneficia e prospera, tanto no aspecto econômico como no social. Mas para utiliza-lo, primeiro tem que gerá-lo, possui-lo e/ou assimilá-lo.

No mundo intercomunicado de hoje, dominado por uma economia globalizada e onde o conhecimento científico flui por redes que operam à velocidade da luz, é cada vez menos relevante saber quem obteve e onde obteve esse conhecimento, e lamentavelmente a preocupação ética de saber como o obteve passa as veces a um segundo plano.

Os investigadores mesmos ignoram em muitos casos o alcance e possibilidades de desenvolvimento práctico de suas descobertas, e não é sua função encontrar e desenvolver aplicações para os mesmos, ainda que fazê-lo seja sem dúvida algo positivo.

As políticas públicas que regem o setor científico e o produtivo devem ser orientadas à utilização do conhecimento em benefício da sociedade que queremos. É a própria sociedade, a través de seus líderes, quem determina aquilo que almeja ser, o que lhe resulta desejável e o que rejeita. Ditas políticas não devem determinar os derroteiros da investigação mesma, que devem seguir a visão dos homens e mulheres que fazem ciência.

Por sua vez, o papel das universidades não pode ser o de simples formadores de profissionais. A verdadeira universidade é a que cultiva o processo de geração e assimilação do conhecimento na sua mais alta expressão, sendo outros os chamados a concretizar sua utilização. Para cumprir sua função a cabalidade é imprescindível que os acadêmicos contem com total libertade para desenvolver seu pensamento e sua ação, sem mais restrição que aquela que lhe impõe a comunidade ao avaliar a qualidade do produto de suas investigações. A geração de conhecimento não tem nacionalidade e pode ocorrer em qualquer lugar do planeta, como resultado do pensamento e a investigação, com o único requisito de que seja bem feito.

As revistas científicas e tecnológicas têm sido e continuam sendo o meio de difusão por excelência do novo conhecimento, e são agora potenciadas enormemente pelas novas tecnologias da informação. Além disso, servem para sustentar a comprovação e verificação das teorias e resultados experimentais que são publicados.

As revistas especializadas, que são a grande maioria, se concentram em campos muito definidos, geralmente restringidos. As revistas multidisciplinárias, pelo contrário, atendem a um espectro muito amplo de áreas do conhecimento e constituem meios apropriados para criar pontes entre a experimentação e formulação de teorias que constituem o novo conhecimento e a utilização do mesmo em benefício de toda a humanidade.

Miguel Laufer, Interciência