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Interciencia

versión impresa ISSN 0378-1844

INCI v.34 n.10 Caracas oct. 2009

 

Pertinência e validação da ciência

O dilema entre pertinência e qualidade tem sido um dos aspectos preponderantes, há um bom tempo, da validação da atividade científica nos chamados países em desenvolvimento. Estas duas características de dita atividade não são necesariamente excluintes, mas muitas vezes constituem motivo de discrepância, insatisfação e controvérsia. Visto de um ângulo talves simplista, o dilema resulta, por uma parte, da escassez de recursos econômicos para satisfazer os requerimentos que fazem os diferentes atores envolvidos, sejam investigadores, instituições, governos, grupos sociais, etc., e por outra parte resulta da humana necessidade de que os critérios e força de um ou outro prevaleçam.

Quando o setor científico-tecnológico foi organizado nos países da América Latina e o Caribe, o que aconteceu principalmente pela iniciativa de organismos internacionais, os recém criados organismos reitores se deram à tarefa de planejar e organizar as atividades, centrando seus objetivos em uma combinação das grandes necessidades percebidas para cada país e a disponibilidade de capacidades intelectuais e físicas. Predominaram em quase todos os casos as linhas de investigação que já estavam sendo executadas, assim como os grandes planos de desenvolvimento nacional. Enquanto estes últimos mudavam com os sucessivos regimes, as linhas de investigação tendiam a se perpetuar baseadas nos critérios de que todo o que é bem feito é válido e que sob nenhum preceito deveria ser desmantelada uma atividade científica produtiva. Prevaleceu então o conceito da qualidade, validada pela figuração nos sistemas de medição nacionais e internacionais.

Um dos resultados mais eloquentes dessa posição foi a configuração de planos nacionais em ciência e tecnologia confeccionados, principalmente, de maneira participativa pelos próprios investigadores, planos que correspondiam a grandes listados de suas próprias atividades e interesses. A inerência oficial não demorou e foi manejado o conceito de concertação sectorial para tentar a incorporação efetiva da demanda potencial por parte do estamento produtivo na formulação de projetos, para dessa forma estabelecer agendas de trabalho onde a oferta e a procura estejam acopladas.

Em alguns países tal planificação tem resultado em claros avanços em relação à formação de pessoal e a execução de projetos com balances positivos no econômico e o estratégico. Nestes casos é obvio o acoplamento existente entre a disponibilidade de recursos humanos, capacidade de investigação e desenvolvimento instalada, e existência das empresas produtivas e seus mercados.

Em outros países os resultados têm sido escassos, devido à falta de desenvolvimento apropriada dessa corrente. Os recursos humanos não tem sido formados, ou não existe a capacidade instalada necessária, não aparecem oportunidades aos produtores ou eles não encontram os elementos necessários para confiar nos rendimentos de seus investimentos, ou então, vários ou todos os factores aparecem ao mesmo tempo.

Quando as coisas não funcionam é invocada a pertinência. A principal pergunta passa a ser Qual é a investigação pertinente que debe ser feita? A resposta, ou melhor, as respostas, dependerão do enfoque daquele que as dê. A qualidade como conceito de pertinência resulta simplista e inadequada, igual que a disponibilidade de recursos humanos. A produtividade e o sucesso do investigador individual ou grupo deles não ultrapassa os limites do laboratório ou da instituição onde o trabalho é realizado.

Isto limita em duas as fontes de pertinência das atividades científico-tecnológicas. Uma é a demanda por parte de um componente de peso do setor produtivo, que em nossos países geralmente são empresas controladas pelo governo ou indústrias importadoras de tecnologias e insumos. A outra é a visão dos governantes sobre o caminho que devem seguir tanto sociedade como o desenvolvimento social e econômico de seus países, sempre esgrimido como o clamor da sociedade. Em última instância, não se trata nunca de outra coisa que não seja os interesses dos grupos dominantes.

Miguel Laufer

Diretor